A amnésia coletiva de uma nação: Contaminação por chumbo em Santo Amaro da Purificação e os crimes escondidos na deslembrança do povo brasileiro

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(Foto: Reprodução/TV Globo)

As histórias, sejam de uma pessoa, uma família ou uma nação, são feitas de lembranças e esquecimentos, mas no último caso as memórias esquecidas são muito bem escolhidas. E essas escolhas são perpassadas por diversos interesses que, creio eu, por mais que tentemos, nunca entenderemos por completo. Os setores da sociedade se encontram tão “globalizados” que quando achamos que conseguimos encontrar todas as pontas sempre surge mais uma.

O Brasil possui a sua própria caixinha das deslembranças e ela está cheia de acontecimentos que não deveriam estar lá e hoje eu me coloco na missão de, a partir das minhas próprias memórias (algumas delas que só passaram a existir após essa pesquisa) puxar algumas pontas e reviver nas mentes dos que estão lendo isso o caso da contaminação por metais pesados em Santo Amaro da purificação causada pela COBRAC.

Eu nasci em Santo Amaro e estudei lá por 4 anos, no Instituto Federal da Bahia que fica localizado a 650 metros de distância da fábrica. 2Um número considerável de pessoas da minha cidade (Amélia Rodrigues) estudava lá e todos os dias íamos e voltávamos num ônibus disponibilizado pela prefeitura. Quando íamos por Oliveira dos Campinhos, sempre passávamos em frente às ruínas da fábrica.
Lembro que antes de estudar lá eu tinha uma ideia muito vaga sobre a história da escória, mas assim que passei a ter maior contato, compreendi melhor do que se tratava.

Em 1960, após descobrirem jazidas de chumbo em Boquíra, a Peñarroya, uma subsidiária francesa, instalou a Companhia Brasileira de Chumbo em Santo Amaro que produzia ligas do mesmo material. O seu processo metalúrgico sem nenhuma responsabilidade com o meio ambiente e a população descartou toneladas de material tóxico na atmosfera e isso levou a contaminação e morte da flora, do rio Subaé, dos animais e de centenas de pessoas.

Isso era tudo que eu sabia, mesmo estando tão perto. Como na música de Caetano, eu achava só era preciso “purificar o Subaé, mandar os malditos embora” e eu nunca estive mais enganada. Esse crime não se trata apenas de um rio poluído, se trata também de sonegação de impostos, contrabando, corrupção, genocídio, usurpação de terra, negligência e os acontecimentos e responsáveis são tantos que será necessário dividir por décadas.

Décadas 60 e 70

Como eu havia dito anteriormente, a COBRAC foi instalada na cidade em 1960. Em 1961, começaram a surgir reclamações dos pecuaristas e eles financiaram estudos técnicos que atribuíram à empresa a responsabilidade pela morte do gado e contaminação do meio ambiente. A partir desses estudos, foi pedido o encerramento das atividades da empresa por infringir um decreto que tratava da poluição dos cursos da água e foi negado.

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30 de março de 1967, Matutina, Geral, página 1 (Acervo O Globo)

Em 1967, O Globo já trazia em seus jornais notícias a sobre os malefícios que o chumbo pode trazer ao meio ambiente. Nesse período os debates sobre a poluição estavam fervendo, devido aos gases emitidos pelos automóveis. Em 1969, o jonal veiculou uma matéria entitulada Poluição atmosférica: a morte anda de automóvel onde se faz referência ao chumbo como um metal venenoso, poluente, mas ainda desconhecido no que diz respeito aos seus efeitos em seres humanos.
Isso seria o suficiente para deixar qualquer autoridade responsável em alerta, mas nada foi feito.
No período de um ano ( 1973 a 1974) medições foram feitas em vários pontos no trecho do Rio Subaé que passa pela cidade e os teores de chumbo e cádmio estavam sessenta vezes maior do que o determinado pela Organização Mundial de Saúde. Essas pesquisas deveriam contribuir para a negação da licença de ampliação de produção da Cobrac.

Em abril 1973, o jornal O Globo escreve uma

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03 de julho de 1973, Matutina, Cultura, página 34 (Acervo O Globo)

matéria expondo os benefícios e

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18 de abril de 1973, Matutina, Economia, página 92 (Acervo O Globo).

versatilidade do chumbo. Em julho, 4 meses depois, escreve sobre como em uma “perfeita ação integrada” da Boquira (empresa responsável pelas jazidas de chumbo em cidade de mesmo nome) e a Cobrac “ realizam um trabalho de maior benefício” para a comunidade, o Estado e o País. O texto é concluído afirmando que o conceito da empresa por si só traz característica que a fazem crescer cada vez mais.

Exatamente um ano depois, em 3 de julho de 1974, em página de mesma numeração na qual foi publicada o texto anterior, O Globo anuncia a ampliação do Grupo Boquira-COBRAC.

Em 1975, o médico da empresa, Ademário Galvão Spínola, fez uma dissertação de mestrado de título Variáveis epidemiológicas no controle do saturnismo. Ele estudou um grupo de funcionários da Cobrac e a intoxicação pelo chumbo desse grupo era mais elevada que a do “Tiro de Guerra” de Santo Amaro.

Agora c7omeça a parte mais interessante… Ao analisar o acervo de jornais O Globo, encontrei três comunicados emitidos pelo Grupo “Plumbum-Cobrac-Boquira”. O primeiro em 1975, o segundo em 1976 e o último em 1977. Em todos, a mineradora se isenta de acusações realizadas contra a ela, porém não especifica quais são e não consegui encontrar em nenhum jornal do acervo O Globo notícias sobre o teor das denúncias.

Ao direcionar as minhas pesquisas para a Biblioteca Nacional Digital, encontrei no jornal Opinião, uma mídia alternativa do Rio de Janeiro opositora a ditadura, uma série de três notícias veiculadas nos dias 19, 21 e 28 de novembro de 1975, escritas por Francisco Alexandria, acusando o Grupo Penarroya de assassinato, roubo de terras, sonegação de impostos, contrabando e corrupção eleitoral em Boquira e Santo Amaro. Um dos comunicados datado em 22 de novembro publicados n’O Globo, faz referência a acusações publicadas em 21 de novembro, o que me leva a crer que são essas que citei.

(Leia aqui a “O feudo do truste Penarroya”, denúncia detalhada).

Em 1976 o jornalista autor da denúncia passou um tempo preso aqui na Bahia.

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Diário do Congresso Nacional, página 73

Em 1977, a câmara recebe a denúncia de sonegação e tráfico de influência feita a mineradora. Em 25 de agosto do mesmo ano, saiu uma notícia n’O Globo afirmando que a mineradora negava as acusações, mas que em depoimento a CPI que a invesigava confessou várias irregularidades e Michel Euvert disse que houve problemas para juntar a empresa Boquira ltda. ao Grupo francês, “mas que foram superados através de entendimentos com então governador Juraci Magalhães.”

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20 de junho de 1978, tribuna da imprensa, página 9

E como era de se esperar de uma investigação em plena ditadura militar, o acusador acabou sendo preso e perseguido.

Década de 80

10Vou começar a década de 80 com uma manchete do O Globo de 1978 porque, finalmente, as coisas começam a se mostrar mais próximas da realidade. A tentativa de progresso pela industrialização acelerada não era nada além de cilada.

A população se enganou facilmente porque indústria representa geração de novos empregos, mas a questão é, a troco de que? O norte global não quer mais saber de empresas que causam tantos danos ao meio ambiente e a comunidade a sua volta e as jogam para os países do sul global. Como fica evidente em um trecho dessa mesma reportagem:

“Zona de industrialização rápida, o recôncavo baiano está se transformando em um laboratório vivo, em que testam sobre as populações os efeitos dos lançamentos intensos de efluentes químicos.”

É em 80 que começam a surgir diversas denúncias por meio da mídia, conhecimento científico sobre os efeitos que a contaminação de metais causa na população. É também nesse momento que o Governo da Bahia começa a tomar as primeiras providências. O estado decreta que a Cobrac realoque todas as famílias num raio de 500 metros, instale filtros em todos os sistemas por onde escoam escória e construam uma chaminé de 90 metros.

A Cobrac só construiu a chaminé e em 1985 assumiu que doou escória do processamento de chumbo para prefeitura pavimentar a cidade e doou os filtros usados para as famílias usarem como cobertor, toalha de mesa e tapete.

Década de 90

Em 1993, a Cobrac fecha às portas, porém os problemas estão longe do fim. A mineradora fecha sem nenhum aviso e vai embora deixando 500 toneladas de resíduos a céu aberto, no pátio da empresa e sem nenhum isolamento em torno da área.

No final da década, iniciou-se um projeto que visava remediar as áreas degradadas pela COBRAC em Santo Amaro. A proposta reconhecia a escória do chumbo na cidade como uma jazida e avaliou a possibilidade de gerar receita a partir do reprocessamento dos resíduos e também previa a retirada dos mais de 54 mil metros cúbicos da pavimentação urbana e os outros 3 mil presente em pátios escolares, terrenos baldios e até em quintais, mas a licença ambiental foi negada.

Século XXI

Em 2010, Carolina Guerra avaliou as diferentes concentrações de chumbo em dentes decíduos recolhidos em Santo Amro, Ribeirão Preto e Mato Leitão, regiões com diferentes históricos de contaminação ambiental e as amostras de Santo Amaro se mostraram consideravelmente superiores às outras.

Essa reportagem do Fantástico de 2007 mostra um pouco da situação mais recente da população santamarense:

 

Eu lembro que minha escola não ficava nem a 10 minutos de distância da Cobrac e era recorrente entre os estudantes piadas sobre a água ser “chumbada” e sobre o jambo das árvores em volta do pavilhão e mesmo assim, bastava o jambeiro ficar carregados que nós levávamos frutas até para casa. Mais próximo ainda das ruínas da fábrica havia centenas de casas, família convivendo naquele lugar como se o crime nunca houvesse existido. Também, um pouco mais próximo, havia um acampamento de ciganos, em frente às ruínas havia um posto de gasolina no lado oposto da rua e mais perto, do outro lado do trilho do trem, tinha um campinho de futebol de terra batida.

Sabendo que ainda 50 anos depois a instalação da Cobrac, pessoas contaminadas estão sendo encontradas, nenhuma construção deveria ser levantada tão próxima daquela região. E após tudo que foi dito sabemos exatamente quem são os culpados:

A principal criminosa – Penarroya/Plumbum

O governo corrupto que permitiu que tantas infrações fossem realizadas em prol de uma industrialização fracassada e abandonou a população a própria sorte.

A grande mídia que se empenhou em transmitir os interesses dos empresários e não cumpriu o seu papel em informar a população dos perigos que estavam correndo.

Por último e não menos importante, a comunidade cientifica que desenvolveu dezenas de artigos que, em sua maioria, não proporcionaram nenhum retorno a população santamarense.

A COBRAC está ao, mas o crime ocorrido em Santo Amaro continua vivo!

Conhecimento, cultura e poder na contemporaneidade: tecendo olhares outros

Destaque

As dimensões do conhecimento, da cultura, da economia e da política ganham novos contornos na contemporaneidade, rompem e ao mesmo tempo reproduzem diversas formas tradicionais de saber e de viver, nas diferentes sociedades. As revoluções tecnológicas vivenciadas na virada do milênio ganham alcance global e passam a influenciar cada vez mais os nossos cotidianos. Neste momento trava-se uma disputa político-ideológica em torno dos direitos e deveres das pessoas no que diz respeito ao acesso ao conhecimento, à liberdade de expressão, à privacidade, à diversidade cultural e à ética no uso das tecnologias digitais. A força e o interesse do mercado se colocam como protagonistas nas definições e tomadas de decisões nesta disputa. Na maioria das vezes as pessoas passam a utilizar as tecnologias, seguindo padrões de consumo estabelecidos, sem maiores questionamentos e reflexões. Visando fomentar uma participação mais efetiva dos sujeitos, dos coletivos e das instituições nesta disputa, é importante estimular compreensões e apropriações críticas, contextualizadas e colaborativas das tecnologias e das linguagens digitais nos processos formativos e culturais. No contexto da contemporaneidade, ler e escrever nas linguagens digitais se constituem como um dispositivo político de afirmação social e cultural.

Esta hipermídia reúne as produções formativas desenvolvidas por estudantes da disciplina Estudos Sobre a Contemporaneidades I, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBa, no ano de 2018. A partir das referências sugeridas e das discussões realizadas, os grupos ficaram responsáveis por produzir hipermídias com temas escolhidos livremente, a partir da problematização e da contextualização dos conteúdos da disciplina com fatos contemporâneos ligados as mais variadas dimensões sociais e áreas de conhecimento. No intuito de oportunizar experiências de gestão e produção coletiva aos estudantes, a primeira etapa desta construção, consistiu na elaboração de um Projeto de Produção da Hipermídia por parte dos grupos, na qual foram definidas as justificativas, os objetivos, as estratégias de abordagem, os argumentos e as etapas da produção. A partir dos projetos desenvolvidos, os grupos realizaram as suas produções e as publicaram no blog da disciplina. Navegar nesta hipermídia, possibilita dialogar com o ponto de vista coletivo da turma, ter acesso ao olhar dos estudantes, suas compreensões críticas sobre a contemporaneidade, perceber a qualidade das produções e o potencial desses autores como produtores e difusores do conhecimento, muitas vezes pouco valorizado nos processos formativos.

a imagem. - produção do grupo 623 (Hosana e Rodrigo)
a imagem. – produção do grupo 623

Algumas produções trataram da influência dos meios de comunicação e das tecnologias digitais na construção de padrões e valores culturais na sociedade contemporânea: De que lado você está? Opressor versus oprimidx; Jovens, Outfits e a Obsolescência Programada; Além das Animações; O feminismo neoliberalista dos Simpsons; Estereótipos reforçados pela mídia; O poder da mídia no conceito de beleza pondo em foco o universo feminino; O Preconceito na Mídia Esportiva Nacional; As faces da vida em rede; Mídias Digitais e Consumo; Direcionando as novas tecnologias na resolução das problemáticas sociais. Outras produções abordaram o atual contexto político brasileiro e o poder exercido pelos grandes meios de comunicação: O titeriteiro império midiático; 1965 ; A semana em que o Brasil parou – Uma breve reflexão sobre a greve dos caminhoneiros; A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite; A influência da Globo na vida dos brasileiros e a cultura do espetáculo ; Está aí mais uma utopia – Uma resenha crítica; Diferentes Conceitos de Utopia. A arte também se fez presente nas produções realizadas, tanto em conteúdo, como em forma: a imagem; Viver de arte no século XXI; Ironia, alegoria e poesia atemporal de Chico Buarque – A Fazenda Modelo Contemporânea. Questões ambientais, provocadas pela cultura desenfreada do consumo e pelas desigualdades sociais: A indústria agropecuária e a relação com os impactos ambientais; A questão do lixo na sociedade contemporânea e seus impactos. A precarização do trabalho, e consequentemente da saúde, na contemporaneidade: A problemática da saúde mental nas relações de trabalho dentro do sistema capitalista; Deschefiando; Recursos Astronômicos no Futebol Mundial.

 

Convidamos tod@s a mergulharem nessa teia crítica, contextualizada e colaborativa de produções hipermidiáticas, e a participarem da nossa construção deixando os seus comentários nas postagens e/ou compartilhando conosco as suas produções, reflexões e sugestões.

Ubuntu!

Yuri Bastos Wanderley

Professor substituto – IHAC/UFBa

producoesihac@gmail.com

Jovens, Outfits e a Obsolescência Programada

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Roupas, smartphones, é inegável o fato que a juventude está cada vez mais consumista, e com o “boom” dos vídeos de “Quanto custa o outfit?”, o consumismo volta a ser discutido como a principal arma usada para o lucro intensivo das empresas, independente de qual setor ela atenda. Com o auxilio das publicidades, que se expandem a cada nova plataforma tecnológica desenvolvida, as empresas despertam o interesse no comprador com uma riqueza técnica surpreendente, os sorrisos nos intervalos das programações da TV deixam claro que o segredo da felicidade está no consumo. Continue lendo “Jovens, Outfits e a Obsolescência Programada”

Destaque

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“anterior às redes sociais, às ferramentas de propagação da imagem, ela já era; tudo é imagem e tudo é tradução de imagens simultâneas acontecendo: Da arte rupestre à poesia concreta – tudo é concebido para atrair o olhar. Este Manifesto busca te aproximar, te cativar, inquirir e te fazer refletir. como você entende o que é a imagem? mas independente de qual seja seu entendimento sobre tal assunto, ela será; a imagem é autossuficiente. ao invés de censurar, capturar, apreender ou até mesmo definir o que é a imagem, a sugestão é que você simplesmente aproveite o que ela pode oferecer em suas diferentes formas.”

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A problemática da saúde mental nas relações de trabalho dentro do sistema capitalista

 

Ao longo da história, vemos que em todos os modelos econômicos, foi dada pouca importância às questões humanas. Entretanto, no capitalismo nota-se a intensificação desses aspectos. No discurso capitalista, voltado ao trabalho, propriedade privada e acúmulo de capital, ocorre simultaneamente a valorização do trabalho e desvalorização do trabalhador.

Essa relação problemática impacta diretamente na produção subjetiva do sujeito e a mesma pode se manifestar através do adoecimento coletivo desse grupo que vende sua força de trabalho. Esse é um exemplo pontual de como o capitalismo produz e gere crises para além do recorte econômico.

Primeiramente, é importante definir o que é saúde mental, o qual não existe consenso de sua definição, mas que é caracterizado pelo equilíbrio entre uma pessoa e o seu meio sociocultural, permitindo ao sujeito saber responder às demandas de convivência social, ter relação positiva com si mesmo, resiliência, possibilidade do indivíduo ter uma posição crítica com a realidade, além de certa autonomia. E por isso, para que não haja a promoção do adoecimento mental, é necessária a existência de um ambiente que respeite e proteja os direitos básicos civis, políticos, socioeconômicos e culturais das pessoas.

A relação entre desgaste mental e trabalho é facilmente identificada, apesar de pouco reconhecida. Na maioria das vezes, a questão social intrínseca é retirada das causas de doenças, colocando a culpa de algo que é de nível coletivo, no individual. Trabalhadores acabam por adoecer devido a precarização no mundo do trabalho, que tem como base fatores sociais, tais como: o aumento da competitividade, falta de reconhecimento e valorização social, fragilização dos vínculos entre colegas e, por fim o perigo do discurso proativo, no qual, muitas vezes, se romantiza o excesso de trabalho desempenhado.

Além dos pontos citados acima, vistos no artigo “Relação entre saúde mental e trabalho: a concepção de sindicalistas e possíveis formas de enfrentamento”, correlacionamos com o debate acerca do filme “The Corporation” (Canadá, 2004) a configuração econômica envolvida e a busca da manutenção das necessidades básicas humanas por parte dos trabalhadores, tais como alimentação e moradia. Algumas empresas valem-se da mão de obra barata e falta de assistência social por parte do estado – encontrada em alguns países tidos como de terceiro mundo -, para atuarem de forma irresponsável com relação à vida humana. A exemplo disso, vemos:  estabelecimento de jornadas exaustivas; existência de dormitórios nas próprias indústrias, estreitando cada vez mais a vida pessoal e trabalho; situações análogas à escravidão; remunerando de forma irrisória e transformando seus trabalhadores em meros objetos que auxiliam no alcance do lucro.

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Fonte: Will Tirando

Condições de trabalho precarizadas e a tensão constante dos trabalhadores, que são considerados pela indústria capitalista como substituíveis, por desempenharem tarefas “mecânicas” e se submeterem a diversas situações (devido a necessidade de sobrevivência), podem conduzir a sérios problemas relacionados à saúde mental, como síndrome de burnout, depressão, o suicídios, abuso de álcool e outras drogas, psicossomatização, fadigas, entre outros.

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Fonte: BIBLIOTECA INDICA: TRABALHO, PRAZER OU OBRIGAÇÃO?

O capitalismo industrial, que teve como suporte a globalização, promoveu grande impacto na economia devido as suas transformações técnicas e seu novo modo de produção, possibilitando, por exemplo, a fabricação e distribuição de smartphones em larga escala. Mas a que custo tudo isso é possível?

Práticas empresariais abusivas tornam possíveis a existência de casos absurdos como os suicídios ocorridos em 2010 no complexo empresarial da Foxconn (empresa associada a Apple na produção de seus Iphones e Ipads), onde ocorreram 18 tentativas de suicídio, com 14 mortes confirmadas. O complexo confunde-se com uma cidade por conta de suas dimensões. São estimadas cerca de 400.000 pessoas trabalhando/vivendo no espaço. Dentro das fábricas são relatados casos de assédio moral e sobrecarga de trabalho, onde se cria um ambiente quase militar de exigências de conduta. Os suicídios são um retrato do quão prejudicial à subjetividade e saúde humana a relação de trabalho precarizada pode ser.

A saúde mental é uma problemática urgente de atenção, principalmente ao tratar de algo tão interligado a existência humana como o trabalho. O modelo econômico atual estima o trabalho, mas peca em não considerar aqueles que o desempenham como dotados de subjetividade. Humanizar as relações de trabalho e identificar as causas do adoecimento crescente da população sujeita a estes ambientes degradantes e tratá-los como preocupação de saúde coletiva pode ser um bom começo para mudar o quadro preocupante encontrado hoje.

Este documento está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional

Mídias Digitais e Consumo

Mídias digitais e consumo

É senso comum o fato de que a atualidade é  marcada pela hegemonia do Capitalismo. Esse sistema faz do Mercado o senhor da vida em sociedade, que impõe às pessoas o consumo desenfreado como modelo de vida a se seguir. Nesse sistema, os indivíduos não são apenas consumidores, mas se tornam também mercadorias, onde as redes sociais funcionam como vitrines, e a vida se torna um espetáculo, como aponta Bauman no livro “Vida para Consumo: A transformação das pessoas em mercadoria”.

Resenha do livro “Vida para Consumo…”

O fenômeno descrito por Bauman (que tem relação com A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord) é algo ao qual todos estamos submetidos em algum nível. No entanto, o caso dos digital influencers, de que trataremos a seguir, é um exemplo perfeito. Esses, além de se configurarem como mercadorias midiáticas, tem servido ao mercado como ferramentas de maketing e publicidade na era digital, a fim de incentivar o consumo aos espectadores.

Essa hipermídia pretende comentar a influência das mídias e publicidade digitais no consumo e estabelecer os aspectos positivos e negativos desse processo. Antes, porém, faremos um resgate ao histórico da publicidade no Brasil.

A PUBLICIDADE NO BRASIL

A publicidade brasileira tem início no século XIX.  Nesse período, eram anunciados principalmente imóveis e africanos escravizados, e os anúncios visavam informar a respeito das características do “produto” a ser vendido.

Campanhas publicitárias do século XIX

Como a publicidade está intrinsecamente associada aos aspectos socioculturais, a propaganda no Brasil passou por muitas mudanças desde essa época. No artigo “A história da publicidade brasileira”, as autoras Emilly Furtado Severino, Natália Moura Gomes e Samila Vicentini fazem esse percurso até a atualidade. Elas mostram como se deu o avanço da publicidade no país e as principais mudanças ocorridas com a chegada do Rádio, da Televisão e da Internet.

Uma nova forma de consumo surge após a revolução industrial, e, consigo,  uma nova forma de divulgar os produtos. Assim, as propagandas deixam de exercer papel informativo e passam a exercer papel apelativo, tentando convencer o público a consumir os produtos. Com a evolução das tecnologias e os aprimoramentos das técnicas de marketing, a mídia passa a trabalhar com a psicanálise e a psicologia tentando entender as subjetividades do público para, assim, interpelá-los a consumir ainda mais, por meio da construção do desejo.

Uma diferença interessante de se observar entre a publicidade produzida até a década 60 e a que é feita na atualidade, diz respeito ao roteiro. Antes, buscava-se demonstrar a funcionalidade e eficiência de determinado produto. Hoje, é preciso vinculá-los a experiências, a estilos de vida, geralmente à diversão e jovialidade. É importante destacar, também, a apropriação por parte do mercado publicitário de causas sociais que estão em pauta, a fim de reforçar a imagem positiva das marcas. Uma das últimas campanhas da Skol exemplifica bem esse último ponto. É uma espécie de pedido de desculpas por anos de campanhas machistas.

 

Campanha Skol

REDES SOCIAIS, PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E DIGITAL INFLUENCERS

As redes sociais são um fenômeno contemporâneo, marcado inicialmente pelo surgimento do ClassMates, a primeira rede social da história, criada em 1995. Após isso, desenvolveu-se muitas outras, até chegar às que hoje conhecemos. O site TechTudo publicou em 2012 o artigo História das Redes Sociais, que traça o caminho das redes sociais até o boom do Facebook, principal site de relacionamento da época. Hoje, apesar da sobrevivência e popularidade do Facebook, o Instagram e Youtube figuram como as principais redes.

É inegável o poder que as redes sociais deram para o “eu” individual, trazendo uma ampla democratização na produção de conteúdo das mais variadas temáticas, dessa vez, por pessoas normais, o que acabou por permitir o surgimento de uma nova modalidade de influenciadores de opiniões e web celebridades: os digital influencers.

Digital Influencers (por Caio Brás)

Multiplicam-se a cada dia blogs, perfis no Instagram e canais no YouTube, onde essas pessoas falam de moda, gastronomia, comportamento, games, fazem quadros de humor, abordam temas sociais, entre outros assuntos, contando com um público que, ora se identifica com os novos comunicadores, ora os enxergam como objetivo a se alcançar. Eles curtem, compartilham e interagem com o conteúdo, dando aval ao que é dito e contribuindo com a conquista de novos seguidores.

Os digital influencers tem nas redes sociais os seus instrumentos de trabalho e meio de sustento, através de ferramentas como Google AdSense, que monetizam os seus conteúdos. E para que os seus vídeos sejam monetizados surge uma relação importantíssima de se entender: a dos produtores de conteúdo com as marcas e os consumidores. Relação onde não basta apenas fazer a divulgação de um produto, é necessário que pareça uma ação espontânea. O artigo “Precisamos falar dos digital influencers”, publicado no site Meio e Mensagem, trata do assunto com alguma profundidade.

A PUBLICIDADE NA ERA DIGITAL

Seguindo o curso da história, o mundo passa por mudanças importantes na era digital. As perspectivas e anseios das pessoas, as relações de trabalho e a forma como essas lidam com o mercado e com a informação também mudaram. O próprio mercado passou por mudanças, sendo uma delas o aumento substancial da concorrência entre empresas e produtos, muitas delas digitais (ecommerce). Para cumprir o objetivo principal das corporações, a de manter o crescimento gradual do lucro (ver o documentário The Corporation), é preciso investir em publicidade, que cumpre o papel de estimular o desejo nos potenciais clientes. E na atual conjuntura, se faz necessário se adaptar à nova realidade.

Como visto anteriormente, há pouco tempo, a publicidade televisiva reinava, quando se tratava de alcance e convencimento do público, sendo as demais ações de marketing meros coadjuvantes. Isso não significa que essa não continue exercendo um papel importante, assim como outras estratégias de marketing continuam a serem usadas, já que uma expressiva parcela da população ainda tem os meios de comunicação tradicionais como forma de entretenimento e informação. No entanto, alguns aspectos feriram esse protagonismo. Sobre isso, podemos falar dos esforços das empresas na diminuição de gastos com a comunicação, e, principalmente, da migração de parcela do público para a internet.

No que tange a retenção de gastos, o mundo atual passa por constantes instabilidades econômicas, as quais ameaçam a sobrevivência de pequenos negócios e o faturamento crescente e desenfreado de grandes corporações. Nesse cenário, o investimento em publicidade televisiva tem sido mais enxuto do que outrora. É pertinente lembrar que peças para a TV têm alto custo, uma vez que se paga pela criação, planejamento, execução e veiculação, esse último com investimentos que variam entre milhares e milhões de reais. Assim, busca-se alternativas mais econômicas.

Acerca da internet, como já foi visto, hoje, existe uma gama de conteúdos de entretenimento disponíveis para acesso a qualquer hora, em qualquer lugar, à escolha do consumidor, possibilitada pelo advento da banda larga, das redes sociais, o crescimento no uso de smartphones, o surgimento dos serviços de streaming e, sobretudo, a produção de conteúdo pelos digital influencers.

Contando com uma audiência que chega até milhões de espectadores, divulgar produtos através de canais no YouTube ou perfis no Instagram passou a ser uma das ações mais acertadas na atualidade. A estratégia é incluir os produtos em conteúdos de entretenimento que sejam relevantes para o público a que se destina.

Essa forma de propaganda é bastante rentável para as empresas, uma vez que o investimento é muito menor quando comparado com os custos dos veículos tradicionais, e pela oportunidade de falar com potenciais consumidores de verdade, esses que em tudo são influenciados por seu digital influencer favorito. Os esforços dos anunciantes passam a ser o de estabelecer quem são os seus potenciais clientes, onde eles estão, por quais assuntos se interessam, quais são os seus hábitos no real e virtual, e os seus desejos. Dessa forma, é possível investir no youtuber ou instagramer que mais combina com a sua marca. Mas há um outro movimento a se levar em conta também.
Além de funcionarem como divulgadores e garotos propaganda para produtos existentes, os digital influencers podem representar também uma demanda da sociedade por novos produtos. É o caso do crescimento no número de vloggers que falam de beleza negra e cuidados com cabelos crespos e cacheados nos últimos 4 anos. Atentas a esse dado, e observando a aderência das ideias por parte do público, marcas como Dove, Pantene, Seda e Salon Line têm investido em produtos específicos para cabelos crespos e cacheados. Essas marcas têm elaborado ações de marketing que colocam as bloggers e vloggers não só como garotas propaganda, mas como inspiração ou co-criadoras desses produtos. Um caso recente é a linha Seda Boom para cabelos cacheados, que tem a youtuber Rayza Nicacio como garota propaganda e embaixadora da marca.

Campanha Seda Boom

CONCLUSÃO

É possível dizer que o Mercado vai sempre se adaptar às novas realidades sociais, já que essas também mudam com grande influência do próprio Mercado. As dinâmicas sociais mundiais são pautadas pelo capitalismo e essa influência parece ser cada vez maior. Há muito tempo não se consome o que se precisa, mas o que o Mercado nos diz que precisamos, seja por meio de produtos culturais tradicionais, seja pelo novos influenciadores digitais. Ainda que haja muitos discursos contra-hegemônicos, há de se levar em conta o fato de que a ideologia hegemônica é uma máquina eficaz, que garante a sua reprodutibilidade pelos sujeitos que a ela estão submetidos.

Acerca do caso abordado, o aspecto positivo que enxergamos é a possibilidade de surgimento de produtos que atendam a uma demanda social real, como peças publicitárias politicamente corretas e produtos que contemplem as necessidades de um público antes esquecido. Até pouco tempo, o alisamento de cabelos por pessoas negras era quase obrigatório, seguindo um padrão de beleza racista. Hoje, percebe-se um crescimento substancial na quantidade de produtos para cabelos crespos e cacheados. Mas sabemos que esse esforço do Mercado tem como principal incentivo a possibilidade do lucro.

REFERENCIAS

ACHBAR, Mark, ABBOTT, Jennifer. The Corporation. 2003. (2h26min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY Acesso em: 8 jun 2018.

BAUMAN, Zigmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2008.

BRÁS, Caio. DIGITAL INFLUENCERS (INFLUENCIADORES DIGITAIS): prós, contras, dinheiro, carreira, credibilidade. (12min15seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Pc48ipPJLYU Acesso em: 10 jun 2018.

Brastem homemenagem. (2min2seg) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eND-7XFbeD0 Acesso em: 15 jun 2018.

Reposter Skol. (1min17seg). Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=eND-7XFbeD0 Acesso em: 15 jun 2018.

COMERCIAL DA BRASTEMP. (52seg) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b3_jtrbX-pI Acesso em: 15 jun 2018.

DEBORD, Guy. Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.

LIMA, Thaís. Consumismo e sociedade de consumidores. 2018. (17min52seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k9-8V95__AY Acesso em: 12 jun 2018.

MEIO & MENSAGEM. Cachos: a nova onda das marcas. Disponível em: http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2017/02/22/cachos-a-nova-onda-das-marcas.html Acesso em: 11 jun 2018.

Meio & Mensagem. Precisamos falar dos digital influencers. http://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2017/10/26/precisamos-falar-dos-digital-influencers.html Acesso em: 14 jun 2018.

SEDA. O BOOM já tá rolando! Nova linha Seda Boom. (33seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tFADWHmEyko Acesso em: 14 jun 2018.

SEVERINO, Emilly Furtado, GOMES, Natália Moura, VINCENTINI, Samila. A história da publicidade brasileira. Uni-FACEF. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rec/article/download/468/448 Acesso em: 10 jun 2018.

TECHTUDO. História das redes sociais: do tímido ClassMates até o boom do Facebook. http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/07/historia-das-redes-sociais.html Acesso em: 14 jan 2018

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Destaque

De que lado você está? Opressor versus oprimidx.

Por conta de acontecimentos históricos e culturais presentes no desenvolvimento da humanidade, a discriminação e opressão das minorias se tornaram muito presentes na vida cotidiana dos indivíduos da sociedade contemporânea. Este fator contribui com o apodrecimento do modo de pensar das pessoas presentes nela.

Dentro da sociedade existem diversos grupos que sofrem com essa opressão, como as mulheres, negrxs, LGBT’s, entre outros. Os ataques a essas pessoas ocorrem por meio de diversas formas, desde agressões verbais e físicas, repreensão, preconceito, bullying, e no pior dos casos o homicídio.

Esse mix de opressões sofridas por esses grupos formam um coquetel molotov, que acreditamos que um dia explodirá. Nosso grupo escolheu esse assunto com o intuito de gerar uma reflexão, quando esse coquetel explodir de que lado você estará?

Referências utilizadas: 

Matérias citadas

“Assassinatos de LGBT crescem 30% entre 2016 e 2017, segundo relatório” https://oglobo.globo.com/sociedade/as

“‘A comunidade LGBT está sendo expulsa das escolas’, diz ativista pelos direitos humanos” https://oglobo.globo.com/sociedade/ed

“Racismo não dá descanso e impacta a saúde e o trabalho dos negros no Brasil” https://brasil.elpais.com/brasil/2017

“Medo da violência policial e de acusações injustas é maior entre a população negra do Rio” https://www.geledes.org.br/medo-da-vi

“Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil; estupros aumentaram 3,5% em 2016” https://g1.globo.com/sao-paulo/notici

“Ser jovem e negro no Brasil é o mesmo que morar é zona de guerra” https://www.gazetadopovo.com.br/ideia

“Taxa de homicídios de transexuais e travestis é a maior em dez anos” https://www.cartacapital.com.br/socie

“Mais de 50% das trabalhadoras já foram vítimas de assédio sexual” http://atarde.uol.com.br/empregos/not

“Racismo e Educação” https://educacao.estadao.com.br/blogs

“Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo: 1 a cada 19 horas” https://catracalivre.com.br/geral/cid

Vídeos utilizados

A Carne – Elza Soares: https://youtu.be/kQf717_0LLg

Karol Conka fala sobre autoestima, preconceito e bullying | Falou e disse! | Saia Justa: https://youtu.be/FUpGWZkGqaU

‘Na minha pele’: entrevista com Lázaro Ramos: https://youtu.be/hQupTegyebw Elevação Mental – Triz: https://youtu.be/npGrq2lFmls

Pabllo Vittar é bonita, bebê!: https://youtu.be/aUvF8UeiW8M

E SE FOSSE COM VOCÊ? (Por que criminalizar a homofobia?)- Põe na Roda: https://youtu.be/KXYtmju2mkw

#OrgulhoDeSer: LÉSBICA!: https://youtu.be/1HMM-MP3fpk

2 minutos para entender – Violência Doméstica: https://youtu.be/jv7FWOmMU70

Teto Preto – Gasolina: https://youtu.be/k0XzDN-Gv3A

Grupo Coquet3l Molot0v: Aila Silva, Gabriel Córdova e Gustavo Marques

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O titeriteiro império midiático

Destaque

É possível afirmar que a 2ª Guerra Mundial foi o marco inicial do império midiático. Durante o conflito, tanto os veículos de comunicação, quanto a ciência por trás dela se desenvolveram demasiadamente – principalmente nas propagandas nazistas e anti-nazistas. -Livros infantis nazistas ilustrando alemães e judeus.

– Capitão América: herói criado para difundir ideais antinazistas.

Durante a Guerra Fria, a competição ideológica entre socialismo e capitalismo estimulou a evolução das propagandas, seja de forma direta, ou indireta – filmes, novelas, HQs ou qualquer outra forma de difusão comportamental. Esses meios de propagação da mensagem eram usados pelos dois lados para denunciar a culpabilidade de seu adversário na ascensão do nazismo, e para divulgar seu modo de vida como o melhor.

Nesse contexto, os Estados Unidos conseguiram disseminar o que chamavam de “American Way of Life” (modo de vida americano) pelo mundo inteiro, utilizando desde o cinema até a moda de Christian Dior (anos 50/60) para divulgar seus costumes e valores (como pluralismo, culto ao individualismo, tolerância, etc.). Nota-se até hoje uma preocupante influência estadunidense na cultura mundial, principalmente porque seus filmes – que possuem maior alcance global – são sujeitos à censura pela Motion Picture Association of America (MPAA), por alianças entre Hollywood e o Governo americano e/ou pelo Pentágono – nesse caso, em troca de uniformes, veículos e réplicas de armas para a produção do filme. O cinema e a Segunda Guerra Mundial no século XXI.

Propaganda do american way of life.

Durante esse período, vivíamos no Brasil um grande exemplo da manipulação explícita da mídia: o período da ditadura militar de 64, onde diversos jornais foram censurados impedindo as críticas ao novo governo, ou até forjando na população uma opinião que corrobora com os interesses particulares dos donos dos grandes veículos de comunicação.

Atualmente, o sistema de mídia e comunicação se configura como a recordação mais expressiva das capitanias hereditárias, tendo em vista que apenas onze famílias, extremamente ricas e grupos empresariais, comandam os meios de distribuição pública de informações, e quem não tem ligação com esses grupos, são prejudicados. Levante sua voz.

Partindo do pressuposto de que os meios de comunicação se demonstram um condutor de enorme eficácia para impor interesses e doutrinas que resultam na criação de uma opinião pública de acordo com os interesses da elite comandante, a situação se torna ainda pior quando um único grupo de mídia é detentor de um real império de veículos de imprensa. SIM, estamos falando das Organizações Globo. Pertencente a família Marinho, cujo é necessário lembrar que seu antigo dono Roberto Marinho, recebeu a concessão após seu apoio ao golpe civil-militar de 1964, esta contraria tudo que a legislação brasileira estabelece. Embora existam leis que proíbem a formação de oligopólios e monopólios de mídia no Brasil, onde é assegurado que um mesmo grupo não poderá controlar diretamente mais do que 5 emissoras, não há uma regulamentação eficaz dessas leis. 

Noticia retirada do site memória.oglobo.globo.com

É importante perceber que as notícias e fatos reproduzidos nas mídias, não são efetivos por si só, são escolhidos por alguém, por algum propósito, e de acordo com seus próprios interesses (que na maioria das vezes, são interesses contrários aos interesses da maioria da população, tendo em vista que são realidades distintas). No caso do Brasil, os proprietários das empresas de comunicação são os principais responsáveis pelo desvio da realidade por meio da distorção e ocultação  dos fatos. E é nesse viés que se realiza uma das principais características da mídia brasileira, a manipulação, que constitui uma grande ameaça à democracia.

Uma das formas adquiridas pelas grandes mídias com o objetivo de ganhar credibilidade com a sociedade, é apostar em jornalistas que demonstram ampla autonomia para manifestar suas opiniões em matérias transmitidas. No Brasil, este lugar foi ocupado de maneira mais completa por Paulo Francis, comentarista da Rede Globo. Francis opinava sobre inúmeros assuntos, lançava críticas, às vezes bastante ofensivas, às vezes elogios. Seu texto era marcado de forma singular, podendo então ser observado como grande intelectual pela sociedade, podendo assim, tendo a liberdade de ditar o que ler ou não, no que acreditar, o que vestir e afins.

Dois são os elementos fundamentais do debate democrático: a ampla defesa e a prova do contraditório, entretanto a grande mídia sempre se posicionou ao lado dos grupos mais reacionários brasileiros, posto isso, é negado à população esses direitos, ficando sem meios para demonstrar suas ideias. Especialistas, inclusive, são convidados para validar as posições das empresas, mas quando isso não acontece… Entrevista Professora Gilberta Acselrad- Globo News.

No que diz respeito às telenovelas, é perceptível a insistência em veicular estereótipos negativos a população negra. A telenovela, como narrativa que difunde representações da sociedade brasileira, ao insistir a representar o negro de forma estereotipada, reforça a  perpetuação da exclusão do negro na sociedade. Submissão e humilhação do negro em horário nobre.

As peças publicitárias representam o mesmo sentido das telenovelas.Propaganda racista da Devassa. 

Do mesmo modo, os programas televisivos. “Humor” racista.

O Art. 1º da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) assegura que :“A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”, logo, tendo consciência do alcance adquirido pelas telenovelas, propagandas e afins, por se tratar de uma sociedade educada frente ao império midiático, o ensinamento naturalizado dessas práticas estereotipadas, resultará na reprodução e ensinamento das mesmas.

Como já mencionado nos parágrafos anteriores, a mídia se tornou um mecanismo autônomo, liderado pelas pessoas que detém maior poder na sociedade. Deste modo, os interesses que são defendidos, sempre serão os que mais favoreçam essa camada, e quem sofre com essa manipulação acaba sendo o pobre, o que não têm voz.

A maior consequência de ser manipulado pela mídia é a perda do senso crítico, quando recebemos apenas um tipo de referência e não temos acesso a outras fontes de informações, somos levados a acreditar em apenas um lado da história, o lado que protege e aumenta a credibilidade dos que possuem poder. O problema maior de tudo isso, está no fato de que a maioria das notícias veiculadas estão, quase sempre, discordantes daquilo que realmente acontece, ou seja, da verdade. Muitos fatos transmitidos, principalmente na TV e nas “fake news” (divulgadas virtualmente), não possuem qualquer relação com o que de fato transcorre, e isso ocorre simplesmente porque a verdade, em muitos momentos, “não é um bom negócio”, não vende notícia, não ganha ibope e, muito provavelmente, não favorece aos manipuladores midiáticos, nem aos seus negócios.

Podemos citar como exemplo as manifestações de 2013 causadas pelo aumento das tarifas de transporte público. Por mais pacífica e organizada que essa manifestação tenha sido, a mídia só mostrou um pequeno percentual que vandalizou patrimônios públicos, na intenção de tirar a empatia da população para aquela manifestação. E, assim, o problema é deixado de lado, pois o que passa a importar é quantas praças foram queimadas, quantas placas de trânsito foram quebradas, e então esquecemos o que afeta diretamente a maior parte da população, pois, aos mais favorecidos, não é interessante se preocupar com o valor das tarifas do transporte público. A sociedade não passa de uma massa de manobra na mão das mídias, utilizada toda vez que o apoio social é visto como importante para uma questão específica. Sempre que determinado assunto necessitar do apoio social, sendo estes recíprocos com a mídia e os privilegiados com a ação, a sociedade passa a ser bombardeada com notícias, reportagens, propagandas e até mesmo publicidades que visem conquistar o apoio da grande massa.

Em virtude dos fatos mencionados, podemos concluir que a distorção da realidade por meio da mídia tem um propósito e uma acepção, o modo como as notícias são divulgadas pelas grandes empresas de comunicação no Brasil, visam forjar a opinião pública, omitindo e distorcendo fatos em prol do interesse da elite econômica que controla esses meios de comunicação, além de criar uma democracia utópica, já que a maioria das pessoas, principalmente as menos escolarizadas e com menor acesso às informações, são alvos fáceis da alienação. Para amenizar essa realidade, faz-se necessária uma mudança no modo como as notícias são passadas à população e como são assimiladas por ela, utilizando diversos pontos de vista na abordagem dos casos relatados, para que o leitor possa construir sua própria opinião ao invés absorver convicções transmitidas. Dessa forma, se faz necessário também que o público conheça de modo preciso os mecanismos de manipulação da verdade, que os meios comunicativos dispõem. Indo além da análise sobre mídias, gostaríamos de convidar à uma reflexão mais profunda acerca da sociedade brasileira com o cordel “Peleja brasileira” (Bando pé no Mato).

Grupo : Ant(i) – Beatriz Meneses, Giovana Souza, Yasmim Morais

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A indústria agropecuária e a relação com os impactos ambientais

 

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Foto: incra

 

Nós aprendemos que o maior causador do aquecimento global é a emissão de CO2 provenientes dos automóveis e indústrias, mas a produção de carne, na maioria dos casos, não foi citada, mesmo sendo a maior emissora anual de gases estufa. Além de prejudicial à atmosfera a produção de carne é responsável (ironicamente) por agravar a fome mundial, poluir rios, desertificar solos e outros problemas que não nos são facilmente informados por um motivo: a detenção de poder econômico e social que esse setor possui. Para que haja alguma mudança nessa cadeia de destruição ambiental, é necessário que, primeiramente, as pessoas comecem a descobrir a verdade que há por trás da sua refeição com carne.

O que não nos contaram sobre o aquecimento global

Muito ouvimos falar nas mídias sociais e ambientes acadêmicos sobre os impactos ambientais do aquecimento global. Em 25 anos perdemos quase 3 trilhões de toneladas de gelo na Antártica, ocasionando elevação dos níveis marítimos e comprometendo o habitat natural e a existência dos animais de espécies polares, além do aumento de temperatura. Estudos realizados em 2015 pelo escritório britânico de meteorologia Met Office indicam que a temperatura do planeta chegou a medir 1C° a mais em relação a temperatura do século XIX. Os últimos 200 anos a partir da Revolução Industrial foram marcados por uma dominação geológica liderada por atividades humanas que vêm causando transformações intensas e imensuráveis no globo terrestre.

Os comumente citados como culpados por esse descontrole ambiental são os veículos movidos a base de combustíveis fósseis e a verticalização das cidades, mas não são apenas eles os nossos inimigos. Os principais agravantes atuais do aquecimento global são os gases emitidos na nossa atmosfera que acentuam o efeito estufa. Dentre eles, os principais são o Dióxido de Carbono (CO2), Óxido Nitroso (N2O) e Metano (CH4). O CO2 é proveniente da combustão presente em processos que utilizam motores e caldeiras, principalmente originado na queima de combustíveis fósseis, mas também presente a partir do desmatamento.O Óxido Nitroso (N2O) está presente na produção de ácido adípico e alumínio para a indústria e em fertilizantes usados na agricultura.

Merece aqui uma atenção especial o gás Metano, que é produzido pela decomposição de matéria orgânica. O seu principal emissor é a indústria agropecuária, por conta da criação de gado, que representa 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Apesar do acordo de países ao Protocolo de Kyoto, a sua emissão aumentou em 10 vezes nos últimos dez anos, mas poucas ou nenhuma informação sobre o tamanho do dano que este setor da indústria causa nos é passado. As organizações governamentais e de proteção a natureza abordam de forma rasa o assunto, sem enfatizar e problematizar o principal incentivo deste contribuinte da destruição natural: o consumo de carne.

Em 2015, um documentário dirigido por Kip Andersen e Keegan Kuhn (com direção executiva de Leonardo DiCaprio e Jannifer Davison), teve como principal foco investigar o porquê dos maiores projetos de proteção ao meio ambiente (incluindo os governamentais) trazerem poucos ou nenhum dados sobre o impacto causado pela indústria pecuária, tais como: desmatamento, desmatamento, poluição, efeito estufa e desperdício de água. “Cownspiracy: O segredo da sustentabilidade” explicita como as organizações pouco se interessam em debater sobre o enorme gasto de água e emissão de gás metano proveniente da agropecuária, isso sem contar as grandes áreas devastadas para o plantio de sementes destinadas à alimentação do gado.

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Andersen tinha o desejo de melhorar o mundo em que vivemos em relação aos desastres ambientais que ocorrem frequentemente. A partir disso decidiu adotar medidas tidas como sustentáveis e que são, de fato, disseminadas como “mudanças de hábitos que podem salvar o planeta”. Porém, ele descobre que a prática da pecuária possui índices muito mais impactantes ao meio ambiente do que a emissão de gases vinda dos veículos e o gasto de água e energia para uso doméstico.

Alguns dados trazidos chegam a ser assustadores em seus números e mais ainda na maneira como não são veiculados, tendo em vista a atual situação ambiental em que o planeta se encontra. Para produzir apenas 0,45 kg de carne são necessários 2,5 mil litros de água, somando-se a água utilizada para produção de grãos, que servirão de alimento para as vacas, e a do consumo do próprio animal. Dessa maneira, Andersen percebe e concorda com o fato de que pouco adianta economizar água ao tomar banho, escovar os dentes, andar de bicicleta ao invés de carro, se a indústria agropecuária seguir nesse ritmo de gasto de recursos naturais e emissão de gases poluentes em níveis astronômicos.

Durante a produção, Andersen e Kuhn buscam o porquê dessa omissão de informar sobre os altos danos causados pela indústria agropecuária. Conversando (ou tentando) com grandes nomes do ativismo ambiental, como Greenpeace, WWF, Amazon Watch e diversas outras, eles percebem que, ao tocar no assunto, os entrevistados mudam o rumo da conversa ou simplesmente nem chegam a conceder a entrevista. E um dos motivos identificados pelos quais as pessoas tiveram receio de comentar sobre o assunto é justamente o medo de “incomodar” as grandes empresas responsáveis por manter esse sistema, ou seja, questionar o modo de produção de carnes e laticínios traria, em tese, prejuízos financeiros aos grandes produtores.

Tais problemas não são encarados de frente pois envolvem mudança de hábito. É fato que o consumo de carne está fortemente presente na maior parte das culturas existentes, um hábito que é prejudicial não só a própria saúde como a de todo o planeta. Outro fator que impede o desenvolvimento de debates que enfrentam os interesses do agronegócio é a exposição dos participantes a riscos de vida. Como foi o caso da freira Dorothy Stang, que foi assassinada a mando no Pará por lutar junto aos nativos da Amazônia brasileira contra o seu desmatamento.

Apesar das dificuldades de se opor ao sistema alimentício vigente, muitos começaram a aderir ao vegetarianismo e ao veganismo, movimentos contra a exploração animal desde seu uso para alimentação como também vestimentas. Esse é um dos caminhos para repensarmos nossos hábitos diante dos desastres ambientais que vem ocorrendo frequentemente e cada vez mais intensos.

Alguns links pra ficar ligado!

http://www.coripa.org.br/noticias.php?id=745

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/11/1933343-conferencia-do-clima-da-onu-alerta-para-recordes-de-desastres-climaticos.shtml

http://blog.waycarbon.com/2017/02/5-fontes-de-gases-de-efeito-estufa/

http://blog.waycarbon.com/2017/07/quais-as-suas-reais-consequencias-do-aquecimento-global/

http://www.inpe.br/acessoainformacao/node/483

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A questão do lixo na sociedade contemporânea e seus impactos

lLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

É uma verdade que, imersos numa sociedade cada vez mais capitalista, fato comprovado no documentário “Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá” de Silvio Tendler (baseado no livro “Por uma outra globalização” de Milton Santos), parar de consumir é utopia. Não obstante, será que o problema reside em consumir, ou no seu exagero? Será que a questão do lixo é um problema individual? Na Idade Média, o lixo era depositado nas ruas e imediações das cidades provocando epidemias que dizimaram populações. Posteriormente, com as Revoluções Industriais e a urbanização, os centros produziam grandes quantidades de detritos e as medidas de saneamento existentes não eram eficazes. Atualmente, entretanto, parece que o cenário de outrora ainda revive tomando como base o lixo que ainda, após séculos, é descartado de forma indevida e leviana. Sob essa ótica, e como consequência dessa conduta irracional, o volume de lixo cresce vertiginosamente na contramão das políticas públicas as quais seriam capazes de atenuar esse hábito errôneo de consumir, mesmo sem necessidade. Fato exemplificado, brilhantemente, pelos retratos do fotógrafo Bismarck Araujo, que conta histórias do povo que precisa ser visto, ao destacar a quantidade exorbitante de resíduos sólidos.

Desse modo, como reflexo desse descarte inapropriado, tanto nos lixões a céu aberto, quanto nos rios, lagos e mares, há produção de metano, chorume e detritos sólidos que – lamentavelmente – provocam contaminação de diversos ecossistemas, causando impactos para todo o ambiente da região.

k(Fonte: Ambiente Legal)

Contudo, esses impactos não agridem somente a natureza. Nessa perspectiva, a questão do lixo interfere também, pungentemente, na vida dos indivíduos na medida em que muitos desses, como única forma de sobrevivência, se sujeitam aos lixões a céu aberto, onde há uma disputa desumana entre animais e pessoas em busca do sustento. Dessa forma, o que é lixo para muitos é a fonte de subsistência para outros, que recorrem a ele em busca de alimento e geração de renda. Essa situação deriva e fomenta a extrema pobreza e a desigualdade social tão marcantes em todo o mundo, retratadas no conceito de “O mundo como é: a globalização como perversidade” (Milton Santos, 2001).

aLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

b.pngLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

cLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

Esse sofrimento é comprovado, de forma clara, através de relatos de pessoas que vivem nessa dura realidade, a exemplo de uma moradora no Lixão da cidade de Santa Luz- BA.

Em segundo plano, o aumento do consumo compulsivo no planeta é evidenciado pelo relatório “O Estado do Mundo”, publicado pelo Worldwatch Institute, o qual diz que, nas últimas cinco décadas, o consumo cresceu seis vezes, enquanto a população mundial aumentou apenas 2,2 vezes. Ou seja, o consumo por pessoa triplicou nos últimos 50 anos. Esse dado é impactante tanto na perspectiva individual, quanto na coletiva, já que esse consumo sem limites, sobretudo de bens supérfluos e/ou que possuem ciclo de obsolescência programada, é um dos principais agravantes da quantidade demasiada de lixo no globo. Desse modo, uma das alternativas para amenizar essa situação é a logística reversa, que consiste no planejamento e no controle (desde o ponto de origem até o ponto de descarte) dos bens produzidos. Nessa ótica, o consumidor devolve o material em desuso ao comerciante, que, por sua vez, o encaminha ao fabricante e esse último se responsabiliza pela reciclagem ou pelo descarte adequado desse resíduo.

dLogística reversa (Fonte: Texaco Lubrificantes)

O Brasil, seguindo essa mesma tendência capitalista, ocupa a quinta posição entre os países que mais produzem lixo no globo. Há, no país, a lei de Politica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada no ano de 2010, baseada na Política dos 5 R’s, que prioriza a redução do consumo e o reaproveitamento dos materiais em relação à sua própria reciclagem. Todavia, percebe-se certa negligência, tanto no cumprimento dessa lei, quanto por parte da população, uma vez que essa parcela se exime dessa responsabilidade que é um tanto coletiva. Sob essa égide, a falta de fiscalização, bem como a carência de investimentos públicos e privados dificultam o aproveitamento do lixo e corroboram para que não haja, de fato, efetividade desse projeto.

Destarte, depreende-se que a problemática do lixo é muito mais ampla do que se imagina e, por isso, perpassa questões de ordem social, individual e de saúde pública. Nesse contexto abordado, devemos nos questionar sobre nossas “inofensivas ações” cotidianas. Assim, é preciso que nós, enquanto cidadãos, não sejamos omissos frente a esse entrave no que concerne às responsabilidades relacionadas ao lixo e, por conseguinte, devemos repensar nossas atitudes relacionadas ao consumo e ao descarte dos resíduos sólidos. Nesse sentido, valem as reflexões: É realmente necessário fazer o uso conjunto de um canudo plástico e um copo? Não seria melhor usar uma sacola reutilizável no lugar de várias sacolas plásticas? Esses, dentre outros tantos atos, só reiteram o poder que a cultura do capitalismo exerce sobre nós e de quanto esse modelo nos faz de “fantoches”, assim como exemplificado na “Globalização como fábula” do documentário “Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá”.

Todavia, é crucial que, para que haja, de fato, uma mudança de postura é preciso que todos os setores sociais estejam em comunhão como uma tríplice: Estado, indivíduo e sociedade, além da participação, essencial, do setor privado, elencando uma real transformação. Dessa forma, é importante que a sociedade cobre a efetivação de políticas ambientais pré-existentes e, até mesmo, a criação de novos projetos que sejam capazes de beneficiar o seio social e, por conseguinte, o ecossistema local.

Em contrapartida, limitar o poder que as Corporações exercem sobre nós é uma situação extremamente difícil, dada a carga de influência que nos faz comprar exageradamente e, como consequência, sempre contribuir para o aumento de resíduos sólidos. Somado a isso, no entanto, o Governo poderá promover incentivos fiscais para aquelas empresas que conseguirem bater metas de reduções de resíduos sólidos como forma de promoção. Porém, para as que não conseguirem, deverá impor severas multas para que repensem os danos que o setor privado causa ao meio ambiente.

O excerto, portanto, convida você, caro leitor, a repensar: esta é a paisagem que você pretende apreciar? É este o ambiente que você deseja deixar para suas gerações futuras?

eLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

Referências Bibliográficas:

Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. Direção: Silvio Tendler. Produção: Silvio Tendler. Brasil: Caliban Produções Cinematográficas, 2006.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Record, 2001.

WORLDWATCH INSTITUTE. O estado do mundo. Washington, DC. 2010.

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