A indústria agropecuária e a relação com os impactos ambientais

 

agropecuc3a1ria-640x341
Foto: incra

 

Nós aprendemos que o maior causador do aquecimento global é a emissão de CO2 provenientes dos automóveis e indústrias, mas a produção de carne, na maioria dos casos, não foi citada, mesmo sendo a maior emissora anual de gases estufa. Além de prejudicial à atmosfera a produção de carne é responsável (ironicamente) por agravar a fome mundial, poluir rios, desertificar solos e outros problemas que não nos são facilmente informados por um motivo: a detenção de poder econômico e social que esse setor possui. Para que haja alguma mudança nessa cadeia de destruição ambiental, é necessário que, primeiramente, as pessoas comecem a descobrir a verdade que há por trás da sua refeição com carne.

O que não nos contaram sobre o aquecimento global

Muito ouvimos falar nas mídias sociais e ambientes acadêmicos sobre os impactos ambientais do aquecimento global. Em 25 anos perdemos quase 3 trilhões de toneladas de gelo na Antártica, ocasionando elevação dos níveis marítimos e comprometendo o habitat natural e a existência dos animais de espécies polares, além do aumento de temperatura. Estudos realizados em 2015 pelo escritório britânico de meteorologia Met Office indicam que a temperatura do planeta chegou a medir 1C° a mais em relação a temperatura do século XIX. Os últimos 200 anos a partir da Revolução Industrial foram marcados por uma dominação geológica liderada por atividades humanas que vêm causando transformações intensas e imensuráveis no globo terrestre.

Os comumente citados como culpados por esse descontrole ambiental são os veículos movidos a base de combustíveis fósseis e a verticalização das cidades, mas não são apenas eles os nossos inimigos. Os principais agravantes atuais do aquecimento global são os gases emitidos na nossa atmosfera que acentuam o efeito estufa. Dentre eles, os principais são o Dióxido de Carbono (CO2), Óxido Nitroso (N2O) e Metano (CH4). O CO2 é proveniente da combustão presente em processos que utilizam motores e caldeiras, principalmente originado na queima de combustíveis fósseis, mas também presente a partir do desmatamento.O Óxido Nitroso (N2O) está presente na produção de ácido adípico e alumínio para a indústria e em fertilizantes usados na agricultura.

Merece aqui uma atenção especial o gás Metano, que é produzido pela decomposição de matéria orgânica. O seu principal emissor é a indústria agropecuária, por conta da criação de gado, que representa 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Apesar do acordo de países ao Protocolo de Kyoto, a sua emissão aumentou em 10 vezes nos últimos dez anos, mas poucas ou nenhuma informação sobre o tamanho do dano que este setor da indústria causa nos é passado. As organizações governamentais e de proteção a natureza abordam de forma rasa o assunto, sem enfatizar e problematizar o principal incentivo deste contribuinte da destruição natural: o consumo de carne.

Em 2015, um documentário dirigido por Kip Andersen e Keegan Kuhn (com direção executiva de Leonardo DiCaprio e Jannifer Davison), teve como principal foco investigar o porquê dos maiores projetos de proteção ao meio ambiente (incluindo os governamentais) trazerem poucos ou nenhum dados sobre o impacto causado pela indústria pecuária, tais como: desmatamento, desmatamento, poluição, efeito estufa e desperdício de água. “Cownspiracy: O segredo da sustentabilidade” explicita como as organizações pouco se interessam em debater sobre o enorme gasto de água e emissão de gás metano proveniente da agropecuária, isso sem contar as grandes áreas devastadas para o plantio de sementes destinadas à alimentação do gado.

Cowspiracy-02

Andersen tinha o desejo de melhorar o mundo em que vivemos em relação aos desastres ambientais que ocorrem frequentemente. A partir disso decidiu adotar medidas tidas como sustentáveis e que são, de fato, disseminadas como “mudanças de hábitos que podem salvar o planeta”. Porém, ele descobre que a prática da pecuária possui índices muito mais impactantes ao meio ambiente do que a emissão de gases vinda dos veículos e o gasto de água e energia para uso doméstico.

Alguns dados trazidos chegam a ser assustadores em seus números e mais ainda na maneira como não são veiculados, tendo em vista a atual situação ambiental em que o planeta se encontra. Para produzir apenas 0,45 kg de carne são necessários 2,5 mil litros de água, somando-se a água utilizada para produção de grãos, que servirão de alimento para as vacas, e a do consumo do próprio animal. Dessa maneira, Andersen percebe e concorda com o fato de que pouco adianta economizar água ao tomar banho, escovar os dentes, andar de bicicleta ao invés de carro, se a indústria agropecuária seguir nesse ritmo de gasto de recursos naturais e emissão de gases poluentes em níveis astronômicos.

Durante a produção, Andersen e Kuhn buscam o porquê dessa omissão de informar sobre os altos danos causados pela indústria agropecuária. Conversando (ou tentando) com grandes nomes do ativismo ambiental, como Greenpeace, WWF, Amazon Watch e diversas outras, eles percebem que, ao tocar no assunto, os entrevistados mudam o rumo da conversa ou simplesmente nem chegam a conceder a entrevista. E um dos motivos identificados pelos quais as pessoas tiveram receio de comentar sobre o assunto é justamente o medo de “incomodar” as grandes empresas responsáveis por manter esse sistema, ou seja, questionar o modo de produção de carnes e laticínios traria, em tese, prejuízos financeiros aos grandes produtores.

Tais problemas não são encarados de frente pois envolvem mudança de hábito. É fato que o consumo de carne está fortemente presente na maior parte das culturas existentes, um hábito que é prejudicial não só a própria saúde como a de todo o planeta. Outro fator que impede o desenvolvimento de debates que enfrentam os interesses do agronegócio é a exposição dos participantes a riscos de vida. Como foi o caso da freira Dorothy Stang, que foi assassinada a mando no Pará por lutar junto aos nativos da Amazônia brasileira contra o seu desmatamento.

Apesar das dificuldades de se opor ao sistema alimentício vigente, muitos começaram a aderir ao vegetarianismo e ao veganismo, movimentos contra a exploração animal desde seu uso para alimentação como também vestimentas. Esse é um dos caminhos para repensarmos nossos hábitos diante dos desastres ambientais que vem ocorrendo frequentemente e cada vez mais intensos.

Alguns links pra ficar ligado!

http://www.coripa.org.br/noticias.php?id=745

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/11/1933343-conferencia-do-clima-da-onu-alerta-para-recordes-de-desastres-climaticos.shtml

http://blog.waycarbon.com/2017/02/5-fontes-de-gases-de-efeito-estufa/

http://blog.waycarbon.com/2017/07/quais-as-suas-reais-consequencias-do-aquecimento-global/

http://www.inpe.br/acessoainformacao/node/483

 Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.