Jovens, Outfits e a Obsolescência Programada

obsolencia-programadacharge Diego Novaes

Roupas, smartphones, é inegável o fato que a juventude está cada vez mais consumista, e com o “boom” dos vídeos de “Quanto custa o outfit?”, o consumismo volta a ser discutido como a principal arma usada para o lucro intensivo das empresas, independente de qual setor ela atenda. Com o auxilio das publicidades, que se expandem a cada nova plataforma tecnológica desenvolvida, as empresas despertam o interesse no comprador com uma riqueza técnica surpreendente, os sorrisos nos intervalos das programações da TV deixam claro que o segredo da felicidade está no consumo. Continue lendo “Jovens, Outfits e a Obsolescência Programada”

Mídias Digitais e Consumo

Mídias digitais e consumo

É senso comum o fato de que a atualidade é  marcada pela hegemonia do Capitalismo. Esse sistema faz do Mercado o senhor da vida em sociedade, que impõe às pessoas o consumo desenfreado como modelo de vida a se seguir. Nesse sistema, os indivíduos não são apenas consumidores, mas se tornam também mercadorias, onde as redes sociais funcionam como vitrines, e a vida se torna um espetáculo, como aponta Bauman no livro “Vida para Consumo: A transformação das pessoas em mercadoria”.

Resenha do livro “Vida para Consumo…”

O fenômeno descrito por Bauman (que tem relação com A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord) é algo ao qual todos estamos submetidos em algum nível. No entanto, o caso dos digital influencers, de que trataremos a seguir, é um exemplo perfeito. Esses, além de se configurarem como mercadorias midiáticas, tem servido ao mercado como ferramentas de maketing e publicidade na era digital, a fim de incentivar o consumo aos espectadores.

Essa hipermídia pretende comentar a influência das mídias e publicidade digitais no consumo e estabelecer os aspectos positivos e negativos desse processo. Antes, porém, faremos um resgate ao histórico da publicidade no Brasil.

A PUBLICIDADE NO BRASIL

A publicidade brasileira tem início no século XIX.  Nesse período, eram anunciados principalmente imóveis e africanos escravizados, e os anúncios visavam informar a respeito das características do “produto” a ser vendido.

Campanhas publicitárias do século XIX

Como a publicidade está intrinsecamente associada aos aspectos socioculturais, a propaganda no Brasil passou por muitas mudanças desde essa época. No artigo “A história da publicidade brasileira”, as autoras Emilly Furtado Severino, Natália Moura Gomes e Samila Vicentini fazem esse percurso até a atualidade. Elas mostram como se deu o avanço da publicidade no país e as principais mudanças ocorridas com a chegada do Rádio, da Televisão e da Internet.

Uma nova forma de consumo surge após a revolução industrial, e, consigo,  uma nova forma de divulgar os produtos. Assim, as propagandas deixam de exercer papel informativo e passam a exercer papel apelativo, tentando convencer o público a consumir os produtos. Com a evolução das tecnologias e os aprimoramentos das técnicas de marketing, a mídia passa a trabalhar com a psicanálise e a psicologia tentando entender as subjetividades do público para, assim, interpelá-los a consumir ainda mais, por meio da construção do desejo.

Uma diferença interessante de se observar entre a publicidade produzida até a década 60 e a que é feita na atualidade, diz respeito ao roteiro. Antes, buscava-se demonstrar a funcionalidade e eficiência de determinado produto. Hoje, é preciso vinculá-los a experiências, a estilos de vida, geralmente à diversão e jovialidade. É importante destacar, também, a apropriação por parte do mercado publicitário de causas sociais que estão em pauta, a fim de reforçar a imagem positiva das marcas. Uma das últimas campanhas da Skol exemplifica bem esse último ponto. É uma espécie de pedido de desculpas por anos de campanhas machistas.

 

Campanha Skol

REDES SOCIAIS, PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E DIGITAL INFLUENCERS

As redes sociais são um fenômeno contemporâneo, marcado inicialmente pelo surgimento do ClassMates, a primeira rede social da história, criada em 1995. Após isso, desenvolveu-se muitas outras, até chegar às que hoje conhecemos. O site TechTudo publicou em 2012 o artigo História das Redes Sociais, que traça o caminho das redes sociais até o boom do Facebook, principal site de relacionamento da época. Hoje, apesar da sobrevivência e popularidade do Facebook, o Instagram e Youtube figuram como as principais redes.

É inegável o poder que as redes sociais deram para o “eu” individual, trazendo uma ampla democratização na produção de conteúdo das mais variadas temáticas, dessa vez, por pessoas normais, o que acabou por permitir o surgimento de uma nova modalidade de influenciadores de opiniões e web celebridades: os digital influencers.

Digital Influencers (por Caio Brás)

Multiplicam-se a cada dia blogs, perfis no Instagram e canais no YouTube, onde essas pessoas falam de moda, gastronomia, comportamento, games, fazem quadros de humor, abordam temas sociais, entre outros assuntos, contando com um público que, ora se identifica com os novos comunicadores, ora os enxergam como objetivo a se alcançar. Eles curtem, compartilham e interagem com o conteúdo, dando aval ao que é dito e contribuindo com a conquista de novos seguidores.

Os digital influencers tem nas redes sociais os seus instrumentos de trabalho e meio de sustento, através de ferramentas como Google AdSense, que monetizam os seus conteúdos. E para que os seus vídeos sejam monetizados surge uma relação importantíssima de se entender: a dos produtores de conteúdo com as marcas e os consumidores. Relação onde não basta apenas fazer a divulgação de um produto, é necessário que pareça uma ação espontânea. O artigo “Precisamos falar dos digital influencers”, publicado no site Meio e Mensagem, trata do assunto com alguma profundidade.

A PUBLICIDADE NA ERA DIGITAL

Seguindo o curso da história, o mundo passa por mudanças importantes na era digital. As perspectivas e anseios das pessoas, as relações de trabalho e a forma como essas lidam com o mercado e com a informação também mudaram. O próprio mercado passou por mudanças, sendo uma delas o aumento substancial da concorrência entre empresas e produtos, muitas delas digitais (ecommerce). Para cumprir o objetivo principal das corporações, a de manter o crescimento gradual do lucro (ver o documentário The Corporation), é preciso investir em publicidade, que cumpre o papel de estimular o desejo nos potenciais clientes. E na atual conjuntura, se faz necessário se adaptar à nova realidade.

Como visto anteriormente, há pouco tempo, a publicidade televisiva reinava, quando se tratava de alcance e convencimento do público, sendo as demais ações de marketing meros coadjuvantes. Isso não significa que essa não continue exercendo um papel importante, assim como outras estratégias de marketing continuam a serem usadas, já que uma expressiva parcela da população ainda tem os meios de comunicação tradicionais como forma de entretenimento e informação. No entanto, alguns aspectos feriram esse protagonismo. Sobre isso, podemos falar dos esforços das empresas na diminuição de gastos com a comunicação, e, principalmente, da migração de parcela do público para a internet.

No que tange a retenção de gastos, o mundo atual passa por constantes instabilidades econômicas, as quais ameaçam a sobrevivência de pequenos negócios e o faturamento crescente e desenfreado de grandes corporações. Nesse cenário, o investimento em publicidade televisiva tem sido mais enxuto do que outrora. É pertinente lembrar que peças para a TV têm alto custo, uma vez que se paga pela criação, planejamento, execução e veiculação, esse último com investimentos que variam entre milhares e milhões de reais. Assim, busca-se alternativas mais econômicas.

Acerca da internet, como já foi visto, hoje, existe uma gama de conteúdos de entretenimento disponíveis para acesso a qualquer hora, em qualquer lugar, à escolha do consumidor, possibilitada pelo advento da banda larga, das redes sociais, o crescimento no uso de smartphones, o surgimento dos serviços de streaming e, sobretudo, a produção de conteúdo pelos digital influencers.

Contando com uma audiência que chega até milhões de espectadores, divulgar produtos através de canais no YouTube ou perfis no Instagram passou a ser uma das ações mais acertadas na atualidade. A estratégia é incluir os produtos em conteúdos de entretenimento que sejam relevantes para o público a que se destina.

Essa forma de propaganda é bastante rentável para as empresas, uma vez que o investimento é muito menor quando comparado com os custos dos veículos tradicionais, e pela oportunidade de falar com potenciais consumidores de verdade, esses que em tudo são influenciados por seu digital influencer favorito. Os esforços dos anunciantes passam a ser o de estabelecer quem são os seus potenciais clientes, onde eles estão, por quais assuntos se interessam, quais são os seus hábitos no real e virtual, e os seus desejos. Dessa forma, é possível investir no youtuber ou instagramer que mais combina com a sua marca. Mas há um outro movimento a se levar em conta também.
Além de funcionarem como divulgadores e garotos propaganda para produtos existentes, os digital influencers podem representar também uma demanda da sociedade por novos produtos. É o caso do crescimento no número de vloggers que falam de beleza negra e cuidados com cabelos crespos e cacheados nos últimos 4 anos. Atentas a esse dado, e observando a aderência das ideias por parte do público, marcas como Dove, Pantene, Seda e Salon Line têm investido em produtos específicos para cabelos crespos e cacheados. Essas marcas têm elaborado ações de marketing que colocam as bloggers e vloggers não só como garotas propaganda, mas como inspiração ou co-criadoras desses produtos. Um caso recente é a linha Seda Boom para cabelos cacheados, que tem a youtuber Rayza Nicacio como garota propaganda e embaixadora da marca.

Campanha Seda Boom

CONCLUSÃO

É possível dizer que o Mercado vai sempre se adaptar às novas realidades sociais, já que essas também mudam com grande influência do próprio Mercado. As dinâmicas sociais mundiais são pautadas pelo capitalismo e essa influência parece ser cada vez maior. Há muito tempo não se consome o que se precisa, mas o que o Mercado nos diz que precisamos, seja por meio de produtos culturais tradicionais, seja pelo novos influenciadores digitais. Ainda que haja muitos discursos contra-hegemônicos, há de se levar em conta o fato de que a ideologia hegemônica é uma máquina eficaz, que garante a sua reprodutibilidade pelos sujeitos que a ela estão submetidos.

Acerca do caso abordado, o aspecto positivo que enxergamos é a possibilidade de surgimento de produtos que atendam a uma demanda social real, como peças publicitárias politicamente corretas e produtos que contemplem as necessidades de um público antes esquecido. Até pouco tempo, o alisamento de cabelos por pessoas negras era quase obrigatório, seguindo um padrão de beleza racista. Hoje, percebe-se um crescimento substancial na quantidade de produtos para cabelos crespos e cacheados. Mas sabemos que esse esforço do Mercado tem como principal incentivo a possibilidade do lucro.

REFERENCIAS

ACHBAR, Mark, ABBOTT, Jennifer. The Corporation. 2003. (2h26min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zx0f_8FKMrY Acesso em: 8 jun 2018.

BAUMAN, Zigmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2008.

BRÁS, Caio. DIGITAL INFLUENCERS (INFLUENCIADORES DIGITAIS): prós, contras, dinheiro, carreira, credibilidade. (12min15seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Pc48ipPJLYU Acesso em: 10 jun 2018.

Brastem homemenagem. (2min2seg) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eND-7XFbeD0 Acesso em: 15 jun 2018.

Reposter Skol. (1min17seg). Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=eND-7XFbeD0 Acesso em: 15 jun 2018.

COMERCIAL DA BRASTEMP. (52seg) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b3_jtrbX-pI Acesso em: 15 jun 2018.

DEBORD, Guy. Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.

LIMA, Thaís. Consumismo e sociedade de consumidores. 2018. (17min52seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=k9-8V95__AY Acesso em: 12 jun 2018.

MEIO & MENSAGEM. Cachos: a nova onda das marcas. Disponível em: http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2017/02/22/cachos-a-nova-onda-das-marcas.html Acesso em: 11 jun 2018.

Meio & Mensagem. Precisamos falar dos digital influencers. http://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2017/10/26/precisamos-falar-dos-digital-influencers.html Acesso em: 14 jun 2018.

SEDA. O BOOM já tá rolando! Nova linha Seda Boom. (33seg). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tFADWHmEyko Acesso em: 14 jun 2018.

SEVERINO, Emilly Furtado, GOMES, Natália Moura, VINCENTINI, Samila. A história da publicidade brasileira. Uni-FACEF. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rec/article/download/468/448 Acesso em: 10 jun 2018.

TECHTUDO. História das redes sociais: do tímido ClassMates até o boom do Facebook. http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/07/historia-das-redes-sociais.html Acesso em: 14 jan 2018

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O trabalho Mídias Digitais e Consumo de Anderson Bispo dos Santos, Mateus Pinheiro Conde Almeida e Thailane Caroline Sampaio está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional

A questão do lixo na sociedade contemporânea e seus impactos

lLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

É uma verdade que, imersos numa sociedade cada vez mais capitalista, fato comprovado no documentário “Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá” de Silvio Tendler (baseado no livro “Por uma outra globalização” de Milton Santos), parar de consumir é utopia. Não obstante, será que o problema reside em consumir, ou no seu exagero? Será que a questão do lixo é um problema individual? Na Idade Média, o lixo era depositado nas ruas e imediações das cidades provocando epidemias que dizimaram populações. Posteriormente, com as Revoluções Industriais e a urbanização, os centros produziam grandes quantidades de detritos e as medidas de saneamento existentes não eram eficazes. Atualmente, entretanto, parece que o cenário de outrora ainda revive tomando como base o lixo que ainda, após séculos, é descartado de forma indevida e leviana. Sob essa ótica, e como consequência dessa conduta irracional, o volume de lixo cresce vertiginosamente na contramão das políticas públicas as quais seriam capazes de atenuar esse hábito errôneo de consumir, mesmo sem necessidade. Fato exemplificado, brilhantemente, pelos retratos do fotógrafo Bismarck Araujo, que conta histórias do povo que precisa ser visto, ao destacar a quantidade exorbitante de resíduos sólidos.

Desse modo, como reflexo desse descarte inapropriado, tanto nos lixões a céu aberto, quanto nos rios, lagos e mares, há produção de metano, chorume e detritos sólidos que – lamentavelmente – provocam contaminação de diversos ecossistemas, causando impactos para todo o ambiente da região.

k(Fonte: Ambiente Legal)

Contudo, esses impactos não agridem somente a natureza. Nessa perspectiva, a questão do lixo interfere também, pungentemente, na vida dos indivíduos na medida em que muitos desses, como única forma de sobrevivência, se sujeitam aos lixões a céu aberto, onde há uma disputa desumana entre animais e pessoas em busca do sustento. Dessa forma, o que é lixo para muitos é a fonte de subsistência para outros, que recorrem a ele em busca de alimento e geração de renda. Essa situação deriva e fomenta a extrema pobreza e a desigualdade social tão marcantes em todo o mundo, retratadas no conceito de “O mundo como é: a globalização como perversidade” (Milton Santos, 2001).

aLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

b.pngLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

cLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

Esse sofrimento é comprovado, de forma clara, através de relatos de pessoas que vivem nessa dura realidade, a exemplo de uma moradora no Lixão da cidade de Santa Luz- BA.

Em segundo plano, o aumento do consumo compulsivo no planeta é evidenciado pelo relatório “O Estado do Mundo”, publicado pelo Worldwatch Institute, o qual diz que, nas últimas cinco décadas, o consumo cresceu seis vezes, enquanto a população mundial aumentou apenas 2,2 vezes. Ou seja, o consumo por pessoa triplicou nos últimos 50 anos. Esse dado é impactante tanto na perspectiva individual, quanto na coletiva, já que esse consumo sem limites, sobretudo de bens supérfluos e/ou que possuem ciclo de obsolescência programada, é um dos principais agravantes da quantidade demasiada de lixo no globo. Desse modo, uma das alternativas para amenizar essa situação é a logística reversa, que consiste no planejamento e no controle (desde o ponto de origem até o ponto de descarte) dos bens produzidos. Nessa ótica, o consumidor devolve o material em desuso ao comerciante, que, por sua vez, o encaminha ao fabricante e esse último se responsabiliza pela reciclagem ou pelo descarte adequado desse resíduo.

dLogística reversa (Fonte: Texaco Lubrificantes)

O Brasil, seguindo essa mesma tendência capitalista, ocupa a quinta posição entre os países que mais produzem lixo no globo. Há, no país, a lei de Politica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada no ano de 2010, baseada na Política dos 5 R’s, que prioriza a redução do consumo e o reaproveitamento dos materiais em relação à sua própria reciclagem. Todavia, percebe-se certa negligência, tanto no cumprimento dessa lei, quanto por parte da população, uma vez que essa parcela se exime dessa responsabilidade que é um tanto coletiva. Sob essa égide, a falta de fiscalização, bem como a carência de investimentos públicos e privados dificultam o aproveitamento do lixo e corroboram para que não haja, de fato, efetividade desse projeto.

Destarte, depreende-se que a problemática do lixo é muito mais ampla do que se imagina e, por isso, perpassa questões de ordem social, individual e de saúde pública. Nesse contexto abordado, devemos nos questionar sobre nossas “inofensivas ações” cotidianas. Assim, é preciso que nós, enquanto cidadãos, não sejamos omissos frente a esse entrave no que concerne às responsabilidades relacionadas ao lixo e, por conseguinte, devemos repensar nossas atitudes relacionadas ao consumo e ao descarte dos resíduos sólidos. Nesse sentido, valem as reflexões: É realmente necessário fazer o uso conjunto de um canudo plástico e um copo? Não seria melhor usar uma sacola reutilizável no lugar de várias sacolas plásticas? Esses, dentre outros tantos atos, só reiteram o poder que a cultura do capitalismo exerce sobre nós e de quanto esse modelo nos faz de “fantoches”, assim como exemplificado na “Globalização como fábula” do documentário “Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá”.

Todavia, é crucial que, para que haja, de fato, uma mudança de postura é preciso que todos os setores sociais estejam em comunhão como uma tríplice: Estado, indivíduo e sociedade, além da participação, essencial, do setor privado, elencando uma real transformação. Dessa forma, é importante que a sociedade cobre a efetivação de políticas ambientais pré-existentes e, até mesmo, a criação de novos projetos que sejam capazes de beneficiar o seio social e, por conseguinte, o ecossistema local.

Em contrapartida, limitar o poder que as Corporações exercem sobre nós é uma situação extremamente difícil, dada a carga de influência que nos faz comprar exageradamente e, como consequência, sempre contribuir para o aumento de resíduos sólidos. Somado a isso, no entanto, o Governo poderá promover incentivos fiscais para aquelas empresas que conseguirem bater metas de reduções de resíduos sólidos como forma de promoção. Porém, para as que não conseguirem, deverá impor severas multas para que repensem os danos que o setor privado causa ao meio ambiente.

O excerto, portanto, convida você, caro leitor, a repensar: esta é a paisagem que você pretende apreciar? É este o ambiente que você deseja deixar para suas gerações futuras?

eLixão de Santa Luz – BA (Fonte: Bismarck Araujo)

Referências Bibliográficas:

Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. Direção: Silvio Tendler. Produção: Silvio Tendler. Brasil: Caliban Produções Cinematográficas, 2006.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Record, 2001.

WORLDWATCH INSTITUTE. O estado do mundo. Washington, DC. 2010.

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O Preconceito na Mídia Esportiva Nacional

O esporte como forma de espetáculo e entretenimento promove através das mídias que o cobrem, um preconceito cada vez mais evidente no dia-a-dia da sociedade brasileira. Cada vez mais programas de TV aberta ou por assinatura e seus apresentadores e repórteres de campo têm um perfil eurocêntrico, a grade de programação prioriza os assuntos relacionados com o futebol e os clubes do sul e sudeste do país, algo tão comum na TV brasileira que tentam justificar com a pseudodemocracia racial e regional existente no brasil.

A maioria dos apresentadores dos programas esportivo no Brasil têm um perfil  diferente dos esportistas que os programas cobrem .No Brasil, o esporte é o caminho que muitos jovens das periferias brasileira encontram como meio de ascensão social, ou seja, jovens negros e pobres. A população negra no Brasil conforme o IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA) é de 53,6%, censo de 2014. Com as ações afirmativas criadas nos últimos anos como as cotas e os programas PROUNI e o SISU, o número de alunos negros e índios matriculados em instituição de ensino superior no Brasil cresceu consideravelmente na última década, com a formação de vários profissionais das áreas de comunicação e jornalismo.Porém a imprensa esportiva tem pouco interesse em colocar esses profissionais negros e índios para apresentar seus programas , uma vez que fogem do perfil eurocêntrico valorizado pela cultura do espetáculo e assim contribuindo com a intolerância e o preconceito de uma forma cínica  disfarçada com um discurso de democracia racial.

Haja vista as discussões sobre os casos de preconceito racial no esporte, como o caso do jogador de futebol Daniel Alves, em que um torcedor jogou uma banana em campo e o mesmo reage de forma irônica, comendo a banana. O caso do goleiro “Aranha”, em que um grupo de torcedores do Grêmio o chama de macaco durante uma partida.Quase sempre, “ os especialistas” a discutirem o assunto são pessoas com perfil eurocêntrico, ou seja, pessoas que a cultura do espetáculo valoriza como a imagem ideal para representar as suas marcas no espaço da mídia,.refletindo ainda mais  a relação preconceituosa que há no esporte, fruto da intolerância dos seres humanos  e das grandes corporações com aqueles que são considerados diferentes.

A pauta do preconceito racial está longe de ser interessante aos meios de comunicação de massa no Brasil, sobretudo, a mídia esportiva, uma vez que abrir espaço para uma discussão profunda e com qualidade sobre o preconceito histórico sofrido pelos povos índios e os de cor negra, dentro do jornalismo esportivo no Brasil, é algo que vem a romper com a estrutura preconceituosa existente em vários meios de comunicação de massa no Brasil. Romper com essa estrutura conservadora e preconceituosa significa romper com os interesses das grandes corporações que têm interesse em ter sua imagem ligada a essa discussão, servindo somente para aparentar uma imagem de um meio de comunicação alinhado as causas sociais, mas que de fato não faz muito esforço para promover as modificações em sua estrutura para que ocorra uma real mudança nesse quadro de intolerância e discriminação.

 

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Daniel Alves e a banana(https://www.youtube.com/watch?v=Y6iv3g87BMQ)

Neste vídeo é possível ver um dos casos mais famosos de racismo ocorridos no Brasil nos últimos anos e a reação do jogador que contribuiu para que o ocorrido tivesse repercussão internacional e fez com que a imprensa brasileira fosse obrigada a tomar uma posição de maior rigidez com o racismo.

Apresentador Tiago Leifert sobre o caso de racismo com Daniel Alves (https://www.youtube.com/watch?v=Z1JrATpddpk)

 

No âmbito regional a mídia esportiva tem como hábito priorizar os assuntos relacionados com o futebol, sobretudo, os referentes às equipes do sul e sudeste do país e estereotipar o discurso sobre as equipes do norte e nordeste tornando assim, cada vez mais desigual a relação mercadológica das equipes fora do eixo sul e sudeste, pois dentro da lógica de mercado se investe mais onde se é mais divulgado a sua imagem pelos meios de comunicação de massa.  Assim a mídia contribui para um distanciamento  entre as equipes de futebol no Brasil, esse distanciamento é ainda maior com os esportes que não tem interesse das grandes corporações, como o remo, a natação, o boxe, entre outros.

Um exemplo de como a mídia esportiva brasileira é muito preconceituosa quando o assunto  é regionalidade, é a política suja em relação aos times que estão fora do eixo sul e sudeste, sem dar grande valor aos jogos que acontecem nas regiões norte e nordeste. A desvalorização é tão grande que eles se negam a admitir a derrota para um time nordestino, alegando inúmeras desculpas para justificar a derrota do time originado do sul do país. Um exemplo quando o Esporte Clube Bahia jogou contra o Vasco da Gama pela copa do Brasil no início de 2018 e ganhou de 3X0, a mídia carioca justificou que o time do Vasco da Gama  estava desfalcado, sendo que o Esporte Clube Bahia também  jogava na mesma situação. Em 2017 o  Esporte Clube Vitória ganhou do Corinthians  pelo campeonato brasileiro em Itaquera  durante a entrevista coletiva, o repórter tirou o mérito do time baiano alegando que o mesmo jogou por uma bola, coisa que irritou muito o técnico do Vitória, Wagner Mancini, que viu seu árduo trabalho e todo seu esquema tático menosprezado por um comentário feito sem critério e que procurava diminuir o feito da equipe baiana.

wagner mancini

“Torcedores do Bahia aprovam reação de Vágner Mancini em coletiva pós-jogo”

(https://www.galaticosonline.com/noticia/20/08/2017/72068,torcedores-do-bahia-aprovam-reacao-de-vagner-mancini-em-coletiva-pos-jogo.html)

Wagner Mancini reage a comentário de repórter (https://www.youtube.com/watch?v=HCLckgkYuVQ)

Nesta reportagem e no vídeo temos a reação do técnico do Esporte Clube Vitória às perguntas feitas pelo repórter e que exemplifica a forma como a imprensa trata os times que não são originados do eixo Sul/Sudeste.

 

botafogo

Presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira, comenta em coletiva de imprensa caso de racismo ocorrido em 17/07/18.

(https://www.youtube.com/watch?v=mqueMy7swEc)

 

aranha

“Grêmio e Aranha, uma história de racismo perverso e continuado”.

“Quando ainda era goleiro do Santos, em 2014, Mário Lúcio Duarte Costa, o Aranha, foi chamado de “macaco” por vários torcedores do Grêmio. Câmeras de televisão flagraram as ofensas racistas. O clube acabou punido com a exclusão da Copa do Brasil. No mesmo ano, o goleiro voltou a jogar na Arena do Grêmio. Passou a partida inteira sendo vaiado por uma expressiva parcela da torcida. Ao fim do jogo, afirmou que a manifestação, logo depois de ter sido alvo de injúria racial, reforçava o preconceito dos gremistas que o atacaram e que aquelas vaias não eram normais. Repórteres que o cercavam se comportaram como inquisidores. Alguns, lançando sorrisos provocativos, insinuavam que Aranha deveria reagir calado ao açoite.”

(https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/17/deportes/1500309484_868649.html)

 

rodrigo

Jornalista Rodrigo Albornoz do canal SPORTV, condena racismo da torcida do Grêmio com o goleiro Aranha (https://www.youtube.com/watch?v=IjNZJ72Y5Eg)

“O campo de futebol é um retângulo histórico de tensões políticas e sociais. Quando a modalidade esportiva chega ao Brasil, trazida com os fluxos migratórios europeus nas primeiras décadas do século XX, aporta em uma nação que acabava de dar fim aos 400 anos de escravidão. Os primeiros clubes brasileiros, contudo, não aceitavam jogadores negros, e os que o faziam jogavam em campeonatos separados.”

(http://observatorioracialfutebol.com.br/o-futebol-expressa-dilemas-e-contradicoes-da-sociedade-diz-pesquisador-flavio-de-campos/)

 

Os casos de preconceito apresentados mostram como a mídia esportiva é engessada em um padrão antiquado e preconceituoso, em que a abordagem dos assuntos de racismo é feita de forma rasa, sem promover de fato um movimento de mudança dos comportamentos racistas e da forma com que a sociedade se relaciona com o futebol. Os recentes casos de racismos ocorridos são um reflexo de como a sociedade tem apresentado comportamentos de intolerância, comportamentos esses que refletem o momento que o país passa atualmente, demonstrando o nível de tensão social a que chegou a sociedade e a necessidade crítica de uma mudança. É neste ponto que a mídia tem um papel tão importante como agente de mudança da visão e comportamento da sociedade, dada a abrangência e facilidade de divulgação de informações no contexto contemporâneo atual, em que o mundo está amplamente conectado através de vários meios de comunicação modernos como as redes sociais, a TV e os jornais digitais, com as informações sobre futebol atualizadas constantemente e o alcance dessas informações em meio a população.

A partir da exposição desses atos recorrentes de racismo em jogos de futebol é possível inferir o quanto o racismo ainda está presente no Brasil, país em que ironicamente boa parte de sua população possui pele de cor negra. Essa situação é ainda pior visto que o futebol é amplamente difundido no país e influencia o cotidiano da sociedade brasileira nos mais variados aspectos, desde a conversa do trabalho até a programação do final de semana. Faz-se necessário por parte de todos os clubes esportivos e de toda a imprensa esportiva, um real comprometimento com as campanhas antirracismo , podendo assim demonstrar para a sociedade brasileira a possibilidade de uma mudança nesse quadro, estimulando um olhar crítico da população para com essas situações de intolerância e estabelecendo um ambiente mais diverso dentro dos meios de comunicação, do esporte e da sociedade como um todo.

O trabalho Preconceito na Mídia Esportiva Nacional de Adriano Vitório, Joseval Garcia e Vitor Guerra está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.