As faces da vida em rede

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INTRODUÇÃO

 A tecnologia digital se faz muito presente em nossas vidas hoje e, embora não seja algo completamente novo, é inegável que os avanços tecnocientíficos vivenciados nas duas últimas décadas possibilitaram não só o desenvolvimento de novos aparelhos, softwares e aplicativos, mas, também, um novo estilo de vida. Ronaldo Lemos, que, junto a Massimo Di Felici, escreveu o livro “A vida em rede”, diz que “(…) na atualidade, a estrutura de redes afeta a política, a economia, a cultura, a educação e todos os campos sociais. Ela afeta como nos organizamos, como vivemos”. Porém, mesmo com tanta influência em nossas vidas, a rede – e a nossa relação com ela – não é completamente compreendida pelas pessoas, o que acaba dando espaço a discursos polarizados que apenas a enaltecem ou a detonam. Mas quem está falando a verdade? Os que veem a vida em rede como algo bom? Ou aqueles que a enxergam com outros olhos, como algo que está nos fazendo mal? E por que não os dois?

O LADO BOM DA VIDA EM REDE

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 O homem vive em um constante processo de descobrimentos e de construções; descobrimos o fogo, nos organizamos como sociedade, desenvolvemos a linguagem e os números, encontramos a cura de várias doenças, criamos meios de obter energia e chegamos às alturas com a criação do avião. Nesse processo de evoluções e construções, o homem, mais uma vez, surpreende. Nos Estados Unidos, durante a Guerra Fria, foi criada a internet, que tinha fins estratégicos de guerra e era restrita a militares e pesquisadores. Essa tecnologia demorou para chegar ao público em geral, pelo receio do seu mau uso por países que não eram aliados ao Estados Unidos. No Brasil, a conexão de computadores por uma rede era apenas para fins acadêmicos, mas, em 1995, a rede foi aberta para fins comercias com a exploração dos serviços pela iniciativa privada.

 Hoje, mais de 20 anos depois, estamos na era digital. O acesso, antes muito restrito, agora é facilitado, possibilitando que muitos possam se conectar.  Essa nova criação transforma as formas de comunicação e relações da sociedade, o que nenhuma outra ferramenta fez de tal maneira antes. Essa nova ferramenta nos possibilita muitas coisas e, em um curto espaço de tempo, podemos obter informações de quase todas as coisas, mesmo de algo que tenha ocorrido do outro lado do globo, podendo ser uma notícia de 30 anos ou 30 minutos atrás, além de nos dar a possibilidade de falar em tempo real com outras pessoas, independentemente de onde estejam. No trabalho as plataformas digitais desprendem milhares de pessoas de salas ou empresas convencionas, trazendo a possibilidade de mudar o ambiente de trabalho ou até mesmo a praticidade de não ter necessidade de sair da sua casa para desenvolver determinadas funções, como, por exemplo, a venda de produtos por internet, a contratação de diversos serviços, dentre outros.

 A colunista da Brasil Escola, Carolina de Aguiar Teixeira Mendes, consultora educacional e pesquisadora do direito educacional e de novas tecnologias, nos faz a seguinte proposta.

“[…]Voltemos ao tempo. Conseguimos nos imaginar sem está maravilhosa invenção que hoje é uma oportunidade de atravessar fronteiras, derrubar barreiras e dividir ideias de forma única? Além de tudo, a internet aumenta a capacidade de leitura (também estimulando novas leituras), ajuda a encontrar informações, resolver problemas e, sem dúvida, a adquirir competências cada vez mais exigidas no mercado de trabalho. Fica no ar a pergunta, cuja resposta soa um tanto óbvia para a maior parte dos usuários desta ferramenta incomparável.[…]”

 Na era da conectividade, as redes sociais digitais são plataformas importantes nas mudanças das novas formas de relações e interações sociais. Não há como negar que o uso da internet facilita a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. As redes sociais como Facebook, Whatsapp, YouTube, dentre outras, nos trazem grandes facilidades, como compartilhamentos, diversão e informações. Porém, as redes sociais podem ser vistas como uma  necessidade humana levando muitos ao uso abusivo, devemos então usar tais ferramentas e plataformas digitais  ao nosso favor.

 Na leitura de uma publicação do Jornal Brasil, que é referente ao lado bom das redes, é exposto que a rede de maneira resumida:

“Mantém os relacionamentos mesmo à distância, nessa correria da vida uma mensagem pode salvar o dia, uma mensagem de vídeo em uma tela já é uma opção para diminuir a saudade. É fazer parte de uma conexão nas curtidas e compartilhamentos, uma forma de se fazer presente na interação com amigos e seguidores, com a existência de grupos com interesses parecidos o que ajuda na construção da identidade desses. O compartilhamento de fotos, textos, vídeos, dentre outros, é uma forma de expressar o que se sente ou pensa, ao compartilhar experiências e opiniões. Na comunicação virtual escrita, podemos pensar antes de agir, o que pode diminuir erros, diferente da comunicação verbal, as redes também estimulam a criatividade dando oportunidade para que muitos tenham a possibilidade de mostrar seus talentos, o usuário dessa forma é estimulado a criar, pela forma instantânea das respostas obtidas pela internet nas relações e iterações das redes sociais.”

 A rede também é uma importante plataforma digital para a otimização da educação, trazendo melhorias nos métodos de pesquisas. Hoje já não é necessário passar horas em uma biblioteca buscando um livro, já que é possível encontrá-los na internet. Outro fator muito positivo proporcionado por essa ferramenta é o método de ensino à distância (EAD), que é reconhecido pelo MEC, o que colabora para que mais pessoas possam ingressar no ensino superior, já que muitos não têm a possibilidade de estudar de maneira presencial, seja por fatores financeiros ou pela falta de tempo. Com mensalidades acessíveis e horários flexíveis, a (EAD) vem obtendo um grande crescimento no país. Esse novo modelo de ensino é de extrema importância para que mais pessoas possam ter acesso a universidade, nos mostrando que a internet pode ser muito mais que uma mera ferramenta se essa for usada ao nosso favor.

O LADO RUIM DA VIDA EM REDE

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 Em contrapartida, a teia que nos une no século XXI não se faz, por infortúnio, coesa como o conjunto de fios de seda de uma aranha. A teia contemporânea deixa brechas maleáveis para novas faces. Sob uma das análises, vê-se um mundo globalizado, mas que falseia sua conexão. À medida que as longas distâncias se encurtam, abismos entre os mais próximos inflam, e, lamentavelmente, nos apartam, uma vez que os olhos alheios estão postos para baixo vidrados em seus smartphones, sobre o vício de manter-se na rede, fisgado como peixe, afogado como naufrago.

 De fato, o imediatismo da transmissão comunicativa é indubitável, tendo em vista o quão instantâneas podem ser compartilhadas as notícias e mensagens. Todavia, tal praticidade abre alas para a propagação de “ervas daninhas” no próprio meio. Nas últimas décadas, tem-se a ocorrência da criação de falsas informações disseminadas com efervescência na internet. Segundo Mattew D’Ancona, a mentira se impregnou de tal modo que é considerada regra, e não exceção.

 Esses inventos acerca da realidade, ainda que aparentem inofensivos, revelam perigo à construção da perspectiva do contexto histórico atual. Afinal, como divergir a crônica verídica da fantasia literária? Como prova de tal perigo, ocorrera a eleição do presidente de um superpotência de suma influência global (Donald Trump, Estados Unidos) e ainda o “Brexit”- expressão britânica empregada para denotar a saída do Reino Unido da União Europeia, acontecimentos esses que tiveram como base em falseios virtuais para que alcançassem o plano concreto. Ademais, em uma atmosfera criacional de tantos perfis, destaca-se o escândalo da Cambridge Analytica (CA), a qual fora uma empresa privada que tinha como finalidade a comunicação estratégica para o processo eleitoral dos Estados Unidos, que aparentemente tem envolvimento com os dois eventos supracitados a priori. Por último, mas não menos importante, eclodira em março de 2018 pelo jornal The New York Times que a CA havia utilizado de informações pessoais de mais de 50 milhões de pessoas do Facebook, o que infringe o célebre direito à democracia.

 Portanto, lida-se, lastimavelmente, com o dilema do limite entre a verdade e a mentira, entre o fato e a ficção, dilema o qual põe em cheque a “Transvaloração da moral” frisada pelo sociólogo Yves de la Taille – em cuja teoria defende que os antigos valores, a exemplo da honestidade e comprometimento, foram suplantados pelos novos, como a vaidade e orgulho.

 Soma-se a isso, a pertinência da discussão acerca da privacidade dos internautas, uma vez que seus dados cadastrados, fotos compartilhadas ou ainda qualquer exposição verbal/não verbal são registrados pela Google, por exemplo. Como prova disso, urge o filme “Freenet“, o qual, experimentalmente, faz a filmagem de sujeitos aleatórios usando o celular na rua, todavia, tal ato acaba por causar um incômodo naqueles que estão a digitar, alegando eles ser uma incompreensível invasão por parte da imprensa documentarista, e essa contra-argumenta fundamentando-se na intromissão mediada e memorizada pela Google e outras grandes empresas de suas vidas. O fato: não é porque não há uma câmera por detrás de cada um que esse não está sendo observado.

 Faz-se deplorável, mas é fato: a sociedade está alienada, cega ante a própria extinção, escassa de humanidade. Assim, os momentos são apenas fotografados, as catástrofes urbanas viram a piada da semana, os perfis são mascarados de risos inexistentes e a balburdia é a novidade que mais dá visualização. Mas essa é apenas uma das faces da Hidra: quanto mais cortamos suas cabeças, com o tempo, mais descobrimos novas e novas faces.

CONCLUSÃO

 Não podemos pensar na vida em rede como algo completamente bom ou ruim, uma vez que, assim como tudo na vida, esse fenômeno contemporâneo traz consigo ambas as faces. Ao mesmo tempo em que temos mais acesso à informação, não podemos ter tanta certeza quanto a sua veracidade. Ainda que possamos nos conectar, socializar e pesquisar, vendemos a grandes empresas nossas informações pessoais sem que percebamos. Estamos mais próximos de pessoas distantes de nós, enquanto aqueles que estão ao nosso lado parecem estar a quilômetros de distância, assim como previu Drummond em seu poema “O homem; as viagens”. Exploramos outros planetas, porém, de maneira contraditória, não conseguimos explorar a relação humana e nos aproximar de nossos iguais. É preciso ser capaz de observar todas as faces da vida em rede para que possamos, assim, desfrutar de tudo o que ela tem a nos oferecer sem que tenhamos que pagar um alto preço por isso. Afinal, estamos usando a rede ou sendo usados por ela?

 

Por: Danielle Baracho, Jamile Santana e Nathália Galvão

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