Está aí mais uma utopia – Uma resenha crítica

As grandes revoluções do mundo foram fruto de ideias utópicas e essas utopias (justamente por não serem possíveis) acarretaram em barbárie como abordado no filme Utopia e Barbárie de Silvio Tendler. Nesse contexto, é possível visualizar o motivo de as sociedades não serem capazes, muitas vezes, de colocar em prática o que está posto em teoria. Nesse sentido, é possível visualizar como os personagens e o tempo mudam, mas não se muda o enredo, no Brasil de 2016/17 é visível a utopia por parte da população teoricamente “mais qualificada” votando a favor de um impeachment ilegítimo.

Quando se trata da palavra revolução é importante desconstruir a carga positiva que esse termo carrega, pois, ao abordar revoluções estamos diante – na grande maioria das vezes – de dois, ou mais pontos de vista opostos. A revolução russa, revolução francesa até mesmo o nazismo, surgiram de ideias utópicas como o socialismo “puro” e a hegemonia caucasiana, esses ideais geraram guerras enormes. Nessas guerras, qualquer ato de barbaridade era justificado indo da escravidão à morte. Tudo isso é legitimo de reflexão: Será que todos esses movimentos, abordados no documentário de Silvio Tendler, conseguiram atingir ao menos um terço dos objetivos? Se atingiram, essas conquistas valeram os esforços desumanos lançados? São perguntas cabíveis, que não tem uma resposta certa, porém cabe a cada um responde-las afim de entender os meios para não repetir os fins. Pois, é possível afirmar que a falha das sociedades ao buscarem um objetivo é tentarem alçar o inalcançável. Os homens criam objetivos não palpáveis e por isso não conseguem mensurar o que é realmente cabível para atingi-los.

Essa gafe está sendo cometida a todo momento durante a história e um retrato dela é o que vem acontecendo no Brasil desde o ano de 2016, quando tivemos uma presidente arrancada de seu posto graças a uma minoria “mais apta” e teoricamente “eleita”. Além desses criminosos que apertaram o gatilho contra a população (principalmente a mais pobre) existiu o apoio de uma minoria bem sucedida, que acreditavam que mudando um presidente a situação do país estaria melhor. Isso é utópico pois essa parcela acreditava que isso iria acontecer sem esforços por parte da mesma, uma vez que depois do impeachment ficaram de braços cruzados, e pouco inteligente, pois por senso comum pode-se imaginar que um pais cuja monarquia não está em voga existem muitas instancias a se passar UM projeto, ou uma ideia ou até mesmo uma “ordem”.  O fato é que essa minoria populacional conseguiu retirar a presidente, e com isso, a barbárie começou, corrupção, corte de verbas para saúde e previdência e uma administração centrada em um Brasil rico que não existe na pratica. Mais uma vez na história, não entendendo que a teoria é diferente da prática. Esse breve resumo do nosso momento político, possibilita olhar para essa minoria muito inteligente para pensar nas suas vantagens sociais, mas muito tola para ver-se como nação e entender, de uma vez por todas, que o avanço econômico e político de um país não se dá pela ascensão de uma minoria fadada ao egocentrismo, mas sim pelo crescimento conjunto de todas as classes econômicas. Está aí mais uma utopia.

Luiz Henrique Muniz

 

Referências:

Filme de Silvio Tendler, 2009. Utopia e Barbárie. Disponível em:

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