Estereótipos reforçados pela mídia

Os meios de comunicação de massa desempenham um papel significativo no nosso mundo atual e globalizado, transmitindo uma enxurrada de informações em um ritmo acelerado e cada vez mais oferecendo entretenimento a um vasto público. Os mais comuns são os jornais, as revistas, o rádio, a televisão e mais recentemente a Internet. Sendo este último o mais desenvolvido atualmente, no entanto, a televisão ainda possui um campo de influência extremamente vasto. Ao criar/transmitir um determinado tipo de mensagem, a mídia pode manipular as atitudes e as opiniões das pessoas.

Com frequência, nós organizamos nossos conhecimentos sobre o mundo ao nosso redor simplificando as informações que são recebidas, nós criamos esquemas que servem como representações da realidade, apenas focando nas suas características mais típicas e fundamentais. Tais esquemas são responsáveis por definir grande parte da nossa visão de mundo e possuem grande influência na nossa percepção da sociedade.

Um dos esquemas mais importantes que usamos para nos orientarmos na sociedade são os estereótipos, eles representam as opiniões dos membros de determinado grupo sobre os outros grupos. Podendo eles serem internalizados através de nossas próprias observações ou através da influência de amigos, da família, de professores, assim como da mídia. Os estereótipos costumam generalizar causando assim uma representação quase sempre errônea e incompleta da realidade. Eles podem ser positivos ou negativos, mas na maior parte dos casos assumem esse último tom.

A mídia utiliza-se dos estereótipos pois baseia-se na suposição de que são amplamente conhecidos por todos e ajudam os receptores a compreenderem o conteúdo da mensagem. Nesse processo somos bombardeados por representações extremamente caricaturais, recheadas de preconceitos, sejam elas racistas, xenofóbicas ou misóginas, seja na televisão, no rádio ou na Internet.

Por sua vez, a mídia televisiva, em especial os programas de cunho humorístico, recorrentemente utilizam-se de estereótipos para provocar o riso na audiência, fazendo o uso de caracterizações (ou descaracterizações) forçadas e exageradas para atingir a qualquer custo um efeito cômico.

Como exemplo dessa caracterização errônea de grupos há a personagem “Adelaide”, que teve sua estreia em 2012 no programa humorístico Zorra Total, da Rede Globo. A personagem é feita pelo ator Rodrigo Sant’Anna, que utiliza maquiagem exagerada para representar uma mulher negra. Tal forma de caracterização era bastante usada nos Estados Unidos, durante o período de segregação racial – século 19 -, no qual os negros não eram permitidos em teatros ou em qualquer forma de atuação.

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No quadro, Adelaide é uma mulher negra que vaga por um metrô pedindo ajuda para os tripulantes, que geralmente são atores com um visual que passa a imagem de pessoas “bem-sucedidas”. A caracterização exagerada da personagem levantou muitas polêmicas em diversos âmbitos de questões sociais e raciais. No quesito visual, é possível identificar o racismo presente no quadro, ao ser utilizado o “black face” – como já citado –, aumentando-se a boca e o nariz do ator, perucas com cabelos bagunçados e dentes quebrados. Quando analisamos o quesito social, notamos a maneira errada de se pronunciar as palavras, passando uma imagem de pessoa que não teve acesso à educação.

Nessa notícia da UOL sobre a personagem Adelaide, ao ler os comentários pode-se perceber que uma parcela grande da população concorda e apoia esse tipo de conteúdo preconceituoso. Isso é uma consequência do processo histórico brasileiro e da presença dos estereótipos nos discursos midiáticos, que colaboraram para seu impacto e permanência.

Já em outra reportagem, essa do Pragmatismo Politico os comentários são mais críticos perante esse tipo de entretenimento. Nota-se uma grande diferença do público de duas mídias distintas.

Outro grupo social que sofre muito com os estereótipos são os nordestinos. Nessa reportagem do jornal A Tarde é abordada a caracterização dos personagens residentes do nordeste na novela Velho Chico, também da rede globo. Na novela os personagens nordestinos são sempre caracterizados como atrasados socialmente, havendo claramente uma distorção da realidade.

Não obstante, a atual novela da rede Globo (Segundo Sol) também apresenta um tipo de preconceito pois ao se retratar no estado da Bahia seria necessário a presença de mais atores negros pois este de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é o estado com maior presença negra no Brasil o que não ocorria na trama, após críticas o MPT (ministério público do trabalho) notificou a emissora a precisão da devida representação racial.

No entanto, o preconceito gerado na mídia é configurado através da manipulação midiática gerado por ela, como dito antes esse efeito dos meios de comunicação é propagado de maneira inconsciente em rodas de amigos, conversas familiares e discussões realizadas em redes sociais ocasionando um ciclo de desinformação sendo está uma das principais precursoras do preconceito.

Em síntese, como mencionado acima a mídia manipula, atribui e caracteriza os temas de diversas formas por isso tem-se como primordial ate-se as fontes pesquisadas e buscar uma pluralidade de ideias observando o máximo de pontos de vista possível.

 

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DISCENTES: Henrique Simões Peixoto, João Antonio Pimentel Fernandes Santos, Raphael Gomes da Silva

GRUPO: Panem et circenses

O Preconceito na Mídia Esportiva Nacional

O esporte como forma de espetáculo e entretenimento promove através das mídias que o cobrem, um preconceito cada vez mais evidente no dia-a-dia da sociedade brasileira. Cada vez mais programas de TV aberta ou por assinatura e seus apresentadores e repórteres de campo têm um perfil eurocêntrico, a grade de programação prioriza os assuntos relacionados com o futebol e os clubes do sul e sudeste do país, algo tão comum na TV brasileira que tentam justificar com a pseudodemocracia racial e regional existente no brasil.

A maioria dos apresentadores dos programas esportivo no Brasil têm um perfil  diferente dos esportistas que os programas cobrem .No Brasil, o esporte é o caminho que muitos jovens das periferias brasileira encontram como meio de ascensão social, ou seja, jovens negros e pobres. A população negra no Brasil conforme o IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA) é de 53,6%, censo de 2014. Com as ações afirmativas criadas nos últimos anos como as cotas e os programas PROUNI e o SISU, o número de alunos negros e índios matriculados em instituição de ensino superior no Brasil cresceu consideravelmente na última década, com a formação de vários profissionais das áreas de comunicação e jornalismo.Porém a imprensa esportiva tem pouco interesse em colocar esses profissionais negros e índios para apresentar seus programas , uma vez que fogem do perfil eurocêntrico valorizado pela cultura do espetáculo e assim contribuindo com a intolerância e o preconceito de uma forma cínica  disfarçada com um discurso de democracia racial.

Haja vista as discussões sobre os casos de preconceito racial no esporte, como o caso do jogador de futebol Daniel Alves, em que um torcedor jogou uma banana em campo e o mesmo reage de forma irônica, comendo a banana. O caso do goleiro “Aranha”, em que um grupo de torcedores do Grêmio o chama de macaco durante uma partida.Quase sempre, “ os especialistas” a discutirem o assunto são pessoas com perfil eurocêntrico, ou seja, pessoas que a cultura do espetáculo valoriza como a imagem ideal para representar as suas marcas no espaço da mídia,.refletindo ainda mais  a relação preconceituosa que há no esporte, fruto da intolerância dos seres humanos  e das grandes corporações com aqueles que são considerados diferentes.

A pauta do preconceito racial está longe de ser interessante aos meios de comunicação de massa no Brasil, sobretudo, a mídia esportiva, uma vez que abrir espaço para uma discussão profunda e com qualidade sobre o preconceito histórico sofrido pelos povos índios e os de cor negra, dentro do jornalismo esportivo no Brasil, é algo que vem a romper com a estrutura preconceituosa existente em vários meios de comunicação de massa no Brasil. Romper com essa estrutura conservadora e preconceituosa significa romper com os interesses das grandes corporações que têm interesse em ter sua imagem ligada a essa discussão, servindo somente para aparentar uma imagem de um meio de comunicação alinhado as causas sociais, mas que de fato não faz muito esforço para promover as modificações em sua estrutura para que ocorra uma real mudança nesse quadro de intolerância e discriminação.

 

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Daniel Alves e a banana(https://www.youtube.com/watch?v=Y6iv3g87BMQ)

Neste vídeo é possível ver um dos casos mais famosos de racismo ocorridos no Brasil nos últimos anos e a reação do jogador que contribuiu para que o ocorrido tivesse repercussão internacional e fez com que a imprensa brasileira fosse obrigada a tomar uma posição de maior rigidez com o racismo.

Apresentador Tiago Leifert sobre o caso de racismo com Daniel Alves (https://www.youtube.com/watch?v=Z1JrATpddpk)

 

No âmbito regional a mídia esportiva tem como hábito priorizar os assuntos relacionados com o futebol, sobretudo, os referentes às equipes do sul e sudeste do país e estereotipar o discurso sobre as equipes do norte e nordeste tornando assim, cada vez mais desigual a relação mercadológica das equipes fora do eixo sul e sudeste, pois dentro da lógica de mercado se investe mais onde se é mais divulgado a sua imagem pelos meios de comunicação de massa.  Assim a mídia contribui para um distanciamento  entre as equipes de futebol no Brasil, esse distanciamento é ainda maior com os esportes que não tem interesse das grandes corporações, como o remo, a natação, o boxe, entre outros.

Um exemplo de como a mídia esportiva brasileira é muito preconceituosa quando o assunto  é regionalidade, é a política suja em relação aos times que estão fora do eixo sul e sudeste, sem dar grande valor aos jogos que acontecem nas regiões norte e nordeste. A desvalorização é tão grande que eles se negam a admitir a derrota para um time nordestino, alegando inúmeras desculpas para justificar a derrota do time originado do sul do país. Um exemplo quando o Esporte Clube Bahia jogou contra o Vasco da Gama pela copa do Brasil no início de 2018 e ganhou de 3X0, a mídia carioca justificou que o time do Vasco da Gama  estava desfalcado, sendo que o Esporte Clube Bahia também  jogava na mesma situação. Em 2017 o  Esporte Clube Vitória ganhou do Corinthians  pelo campeonato brasileiro em Itaquera  durante a entrevista coletiva, o repórter tirou o mérito do time baiano alegando que o mesmo jogou por uma bola, coisa que irritou muito o técnico do Vitória, Wagner Mancini, que viu seu árduo trabalho e todo seu esquema tático menosprezado por um comentário feito sem critério e que procurava diminuir o feito da equipe baiana.

wagner mancini

“Torcedores do Bahia aprovam reação de Vágner Mancini em coletiva pós-jogo”

(https://www.galaticosonline.com/noticia/20/08/2017/72068,torcedores-do-bahia-aprovam-reacao-de-vagner-mancini-em-coletiva-pos-jogo.html)

Wagner Mancini reage a comentário de repórter (https://www.youtube.com/watch?v=HCLckgkYuVQ)

Nesta reportagem e no vídeo temos a reação do técnico do Esporte Clube Vitória às perguntas feitas pelo repórter e que exemplifica a forma como a imprensa trata os times que não são originados do eixo Sul/Sudeste.

 

botafogo

Presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira, comenta em coletiva de imprensa caso de racismo ocorrido em 17/07/18.

(https://www.youtube.com/watch?v=mqueMy7swEc)

 

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“Grêmio e Aranha, uma história de racismo perverso e continuado”.

“Quando ainda era goleiro do Santos, em 2014, Mário Lúcio Duarte Costa, o Aranha, foi chamado de “macaco” por vários torcedores do Grêmio. Câmeras de televisão flagraram as ofensas racistas. O clube acabou punido com a exclusão da Copa do Brasil. No mesmo ano, o goleiro voltou a jogar na Arena do Grêmio. Passou a partida inteira sendo vaiado por uma expressiva parcela da torcida. Ao fim do jogo, afirmou que a manifestação, logo depois de ter sido alvo de injúria racial, reforçava o preconceito dos gremistas que o atacaram e que aquelas vaias não eram normais. Repórteres que o cercavam se comportaram como inquisidores. Alguns, lançando sorrisos provocativos, insinuavam que Aranha deveria reagir calado ao açoite.”

(https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/17/deportes/1500309484_868649.html)

 

rodrigo

Jornalista Rodrigo Albornoz do canal SPORTV, condena racismo da torcida do Grêmio com o goleiro Aranha (https://www.youtube.com/watch?v=IjNZJ72Y5Eg)

“O campo de futebol é um retângulo histórico de tensões políticas e sociais. Quando a modalidade esportiva chega ao Brasil, trazida com os fluxos migratórios europeus nas primeiras décadas do século XX, aporta em uma nação que acabava de dar fim aos 400 anos de escravidão. Os primeiros clubes brasileiros, contudo, não aceitavam jogadores negros, e os que o faziam jogavam em campeonatos separados.”

(http://observatorioracialfutebol.com.br/o-futebol-expressa-dilemas-e-contradicoes-da-sociedade-diz-pesquisador-flavio-de-campos/)

 

Os casos de preconceito apresentados mostram como a mídia esportiva é engessada em um padrão antiquado e preconceituoso, em que a abordagem dos assuntos de racismo é feita de forma rasa, sem promover de fato um movimento de mudança dos comportamentos racistas e da forma com que a sociedade se relaciona com o futebol. Os recentes casos de racismos ocorridos são um reflexo de como a sociedade tem apresentado comportamentos de intolerância, comportamentos esses que refletem o momento que o país passa atualmente, demonstrando o nível de tensão social a que chegou a sociedade e a necessidade crítica de uma mudança. É neste ponto que a mídia tem um papel tão importante como agente de mudança da visão e comportamento da sociedade, dada a abrangência e facilidade de divulgação de informações no contexto contemporâneo atual, em que o mundo está amplamente conectado através de vários meios de comunicação modernos como as redes sociais, a TV e os jornais digitais, com as informações sobre futebol atualizadas constantemente e o alcance dessas informações em meio a população.

A partir da exposição desses atos recorrentes de racismo em jogos de futebol é possível inferir o quanto o racismo ainda está presente no Brasil, país em que ironicamente boa parte de sua população possui pele de cor negra. Essa situação é ainda pior visto que o futebol é amplamente difundido no país e influencia o cotidiano da sociedade brasileira nos mais variados aspectos, desde a conversa do trabalho até a programação do final de semana. Faz-se necessário por parte de todos os clubes esportivos e de toda a imprensa esportiva, um real comprometimento com as campanhas antirracismo , podendo assim demonstrar para a sociedade brasileira a possibilidade de uma mudança nesse quadro, estimulando um olhar crítico da população para com essas situações de intolerância e estabelecendo um ambiente mais diverso dentro dos meios de comunicação, do esporte e da sociedade como um todo.

O trabalho Preconceito na Mídia Esportiva Nacional de Adriano Vitório, Joseval Garcia e Vitor Guerra está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.