Recursos Astronômicos no Futebol Mundial

Nas últimas décadas, passou a ser notório os crescentes valores de transações e salários dos jogadores em alguns times ao redor do mundo. O esporte inventado na Inglaterra com a formação da The Football Association em 1863 e que chegou ao Brasil por meio de Charles Miller em 1894, que deveria objetivar e fomentar a prática de atividade física, tem se transformado em um espetáculo televisivo e em uma grande vitrine comercial, onde circulam milhões de reais vindos de fundos não apenas arrecadados por patrocinadores da indústria esportiva como também tem arrecadado dinheiro da indústria do petróleo como no caso dos Sheiks árabes que com seus petrodólares se tornaram investidores e donos dos principais times europeus.

A economista Elena Landau, antiga funcionária do BNDES, cita em uma entrevista a um documentário da BBC Brasil “Hoje está evidente que o futebol é um mercado de entretenimento. Nos EUA, é normal ver o esporte como parte dessa indústria, mas o futebol está se consolidando nisso agora. Está virando cada vez mais um espetáculo”. Esta citação corrobora com o fato dessa reviravolta de valores dentro do futebol ser desencadeada, dentre uma série de motivos, pela presença da TV, que constitui parte significativa das receitas dos clubes através dos direitos de transmissão, seja em São Paulo ou em Paris.

Torna-se fácil a percepção de tamanha desigualdade quando se comparam os salários pagos aos jogadores com os salários pagos aos trabalhadores que atuam no mercado de trabalho formal ou informal. Só a título de comparação, o salário pago ao jogador mundialmente reconhecido Neymar Jr, (que foi transferido para o Paris Saint Germain por uma fortuna de 222 MILHÕES DE EUROS aproximadamente 815 MILHÕES DE REAIS, tornando-se a contratação mais cara da história) é de R$110 MILHÕES anual, algo em torno de R$300 mil por dia ou R$12,5 mil por hora, enquanto o salário mínimo Brasileiro gira em torno de R$950 mensal ou R$31 por dia.

Um fato importante para esse fenômeno ocorreu em 1995 na Corte Europeia de Justiça, quando o belga Jean-Marc Bosman ganhou uma ação contra seu antigo clube Standard Liege, da Bélgica, que se recusava a vendê-lo e diminuiria seu salário. A partir daí os jogadores passaram a negociar diretamente com os próprios clubes, fazendo com que houvesse maiores negociações sobre salários e transações, antes só feitas por Clube-Clube. Um exemplo dessa ”inflação” ocorrida após essa decisão da corte foram os Clubes Ingleses, nos quais na época tinham uma média salarial de R$40 mil mensal, já em 2015 atingindo a média superior a R$700 mil mensal. Essa consequência não se limitou apenas aos salários, valores pagos por jogadores da época eram cercas de 10x menores que os atuais.

Esses milhões são investidos com a intenção de obter uma renda muito maior. Os clubes passaram a ”internacionalizar” suas marcas, países onde o esporte nunca foi muito bem difundido ou aceito agora passam a conhecer e admirar clubes e jogadores que atuam no futebol europeu. Logo este esporte tem se tornado uma importante ferramenta para a globalização, integrando sociedades por meio do esporte, porém aqui no Brasil os preços das camisas de clubes ou qualquer se tornaram inacessíveis aos públicos de baixa renda no qual se sentem na vontade de obter uma camisa do teu clube amado ou do jogador preferido. Toda essa globalização traz consigo uma enorme visibilidade e mídia, consequentemente, novos patrocínios, vendas e dinheiro.

Mas também traz uma ilusão que pode ser perversa e preocupante. Gerando a falsa esperança de que qualquer um que tenha habilidade e capacidade chegue a esse patamar de visibilidade, com salários altíssimos, fama e reconhecimento, quando na verdade os que realmente conseguem chegar a esse patamar é uma minoria dessa multidão de jovens sonhadores além de ser o retrato fiel de que se vive em uma sociedade mais e mais consumista que preza pelo seu próprio bem estar, onde o principal objetivo da sociedade é obter lucro e realização social.

Texto redigido por Charles Oliveira e Andre Mello.

 

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